segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Documento comprovando a vericidade dos relatos feitos por José Marinho de Araujo, na década de 1930 pesquisado´por FHOAA em 2009/2010.




Uma multidão se acotovela na Cava Grande. A notícia correu veloz, e todos da circunvizinhança para lá se dirigem.
Prevenido como é Fonseca Moura, pede a todos que não tivessem armas de fogo e não resistissem a qualquer subtração do cadáver no rio, porque os Fortes são capazes para isso. As janelas da fazenda de Santa Clara estão fechadas. Não se vê, pelas imediações, nem um escravo da fazenda, como de costume. Todos se acham às escondidas.
É um ermo a fazenda: uma fazenda abandonada, esta que até poucos dias apresentava-se como um fervilhar de formigueiro!...
Da Vila vão a Cava Grande, Dr. Gabriel Bustamante, Juiz de Direito, Dr. Joaquim Fernandes Torres Júnior, promotor de Justiça e Francisco Antônio Duarte da Silveira, 1º Suplente do subdelegado de polícia, em exercício, acompanhado de muita gente.
Iam todos para a Cava Grande, quando causando estranheza aos circunstantes, o Promotor de Justiça aconselha ao Dr. Ga brielzinho que se escondesse na fazenda, pois, podia ser alvo de alguma agressão pela parte daquela massa de povo que ali se acha.
Dai a pouco, chegam a Cava Grande “Tira prosa” e os escravos Desiderio e Chico Gomes, aparentando surpresa, a fim de desorientar o que já se firmou em relação aos verdadeiros matadores de Pereira.
Estes puseram a canoa no rio e retiraram o corpo do assassinado, na presença do primeiro suplente do subdelegado, em exercício, Francisco Antônio Duarte da Silveira, escrivão de polícia, Francisco Prudêncio Pinto, e dos peritos intimados, farmacêutico Mariano Pereira da Silva Gomes e o advogado José Eleutério dos Santos, que fizeram o auto do corpo de delito, assistido pelo Promotor de Justiça.
O relatório dado pelos peritos é o seguinte:
“Que chegando ao lugar designado na porteira e sendo ai na porteira denominada Cava Grande nos pastos da fazenda de Santa Clara, encontraram aquém, junto a mesma porteira alguns salpicos de sangue em um caco de telha, e em algumas folhas e ramos que pareciam ter havido nesse lugar algum conflito.
E, nada mais puderam pesquisar por se achar esse lugar aterrado recentemente e o mato de um e outro lado também roçado de pouco.
Continuando os peritos o exame além da porteira, encontraram a distância de dez praças mais ou menos, no barranco que da mesma estrada desce para o rio Preto, sinais de ter sido por ali arrastado algum corpo pesado, e seguindo estes rastros foram encontrando sangue pelas relvas, e alguns poços de sangue coagulado em diversos lugares pelo barranco abaixo até a beira do rio Preto, chegando ali, avistaram um cadáver dentro do rio, a distância de dez palmos, mais ou menos, que lhes parecia estar de pé e de cor branca. Declararam mais que, o lugar em que se achava esse cadáver dentro do rio, tinha sete e meio palmos, mais ou menos, de profundidade, pelo exame que procederam; declararam ainda que tirado esse cadáver para dentro de uma canoa, reconheceram estar nu e ser de cor branca, achava-se atado pela cintura com uma corrente de ferro grossa, tendo a mesma corrente nas pontas amarrada uma pedra que calculavam pesar arroba e meia, mais ou menos.
Declararam mais que os pés do mesmo cadáver se achavam atados por um cabresto, tendo este cabeçada de sola e láctico de couro cru que igualmente estavam uma pedra de dezesseis a vinte libras mais ou menos.
Declararam mais que observaram os punhos de ambos os braços uma grande depressão que mostrava também terem sido amarrados junto a corrente atada à cintura; declararam mais que tirado o cadáver da canoa, para a margem do rio, reconheceram ser homem de estatura ordinária, grosso, e que trazia os cabelos da cabeça aparados e neles se observavam alguns cabelos brancos e pelo resto das suíças, onde havia maior quantidade de cabelos brancos, e pelo que já ficou dito lhes pareceu ser o cadáver de Manoel da Silva Pereira Júnior.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Crime da Cava Grande - José Marinho de Araújo

Ninguém, pela estrada, sabia do paradeiro de Pereira. Afinal Manoel Teixeira encontra pelas proximidades de Santa Clara, com Antônio Raimundo e incontinente pergunta-lhe pelo malogrado bandeirante da terra ribeirinha.
Antônio Raimundo que é a única testemunha de vista, diz que não sabe, com receio, talvez, de cair sobre si o furor “fortista”, ainda mais que sua família, deve favores aos Fortes, vivendo até em suas terras.
Desconfiado, fugindo das testemunhas, olhando para os lados, põe a mão em forma de leque no rosto, e diz ao ouvido de Teixeira:
_Procure no rio Preto, na Cava Grande, que ele está lá.
Teixeira volta à Barra Mansa, cheio de terror, trazendo a notícia a seu patrão. A casa do Moura, tornou-se um quartel; tramava-se ali a forma de descobrir o assassinato, mas como? Se fossem à Santa Clara, seriam mortos, com certeza.
Uma noite foi passada em claro por toda aquela gente, sem que resolvesse ou descobrisse uma medida a tomar.
No dia seguinte, 25, Joaquim Francisco de Oliveira, um português comerciante em Santa Rita do Jacutinga, que vem à Vila tratar de seus negócios, avista ao passar pela Cava Grande o cadáver de Pereira, em pé, no meio do rio, com as mãos levantadas para o ar, desafiando os criminosos e o s denunciando à Justiça Divina. Foi assim verificado o crime dos Fortes que até o momento se encerrava num véu de suspeitas e conjeturas.
Como Joaquim Francisco de Oliveira vem à Vila, Fonseca Moura dá-lhe uma carta para pessoa da Vila, pedindo que levasse o fato ao conhecimento do Juiz de Direito, Promotor de Justiça e Delegado de Polícia para enviarem providências que o caso exige.
José Pereira, irmão da vítima, chega à casa de Fonseca Moura, entre soluços, querendo vingar-se da morte do irmão, mas como?
Uma multidão se acotovela na Cava Grande. A notícia correu veloz, e todos da circunvizinhança para lá se dirigem.