terça-feira, 23 de março de 2010

Algozes.

Capítulo VI
Algozes.

Aparecem nesta zona, alarmando a Vila do Rio Preto, as freguesias de Santa Rita de Jacutinga, Santa Isabel do Rio Preto e São Joaquim da Barra Mansa, cujas populações são pacatas e ordeiras dois indivíduos que se intitulam valentões.
O primeiro deles, o mais perigoso, chamava-se Quintino de Lima Sampaio, nasceu em 1827, na localidade fluminense de Angra dos Reis, e diz-se natural de Campinas, na Província de São Paulo.
Chegou aqui como feitor da fazenda de Pirapetinga, por recomendação do dr. Gabriel, e agora este o tem sempre a seu lado.
Seus antecedentes são péssimos.
Achando-se preso por crime de resistência no Quartel do 1º Regimento da Ca-valaria Ligeira da Corte, onde era ferrador, evadiu-se a 09 de Abril de 1859.
A fim de lograr a polícia, assina Manoel Joaquim da Silva.
Devido à sua arrogância de valentão, é conhecido nesses meios por “Tira-Prosa”.
É uma dessas almas criadas para o crime
Homem de maneiras rudes, grosseiros e descabidas, desagrada a toda gente, tratando os demais com aspereza.
Foi contratado, antes de aparecerem nas fazendas do vale do rio Preto, pelo tenente Vicente Lopes, fazendeiro na Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, para vingar de inimigos de sua pessoa.
Estão no número de seus inimigos, o seu próprio irmão Antônio Lopes e João Baptista dos Santos, o sapateiro da freguesia, que quase foi morto no terreiro da fazenda de Vicente Lopes, por “Tira-Prova” e quarenta escravos, fato este que é ainda muito comentado em Santa Isabel.
Fernando Ferraz e seu irmão Antônio Ferraz moravam na fazenda “Dois Irmãos” (fazenda de São Mathias), uma légua mais ou menos de distância da fazenda Pirapetinga.
Fernando Ferraz e Antônio Ferraz, dois portugueses que deixaram as suas vinhas na quinta província do Minho, vieram tentar fortuna no Brasil, fundando num dos ângulos do vale do rio Preto, a família Ferraz, hoje portadora de tantos títulos, pelos homens que descenderam desses troncos.
Antônio Ferraz veio para o Brasil ainda criança,Fernando Ferraz ,(irmão de Antônio Ignácio Ferraz), nasceu em 23/06/1829, casado com Marcolina Cândida Fortes.Era filho legítimo de Victorino Antônio Ferraz d’ Araujo e Mathildes Ignacia Francisca do Espírito Santo, com 36 anos, casado, fazendeiro, natural da Villa de Valença de Minho, Portugal.
Abaixo da fazenda de São Mathias,ergue-se a sede da fazenda de Pirapetinga, vendida por Manoel Pereira a Antônio Ignácio Ferraz.
Antônio Ignacio Ferraz é de origem portuguesa casado comCarolina Xavier Fortes uma das filhas de Dona Eleutheria Claudina Fortes,irmã do Barão de Monte Verde.
Naturais da vila de Valença do Minho, em Portugal. Fernando, irmão de Antônio, acompanhou-o ao Brasil, com o mesmo intuito: o de ganhar a vida em plagas brasileiras, tão irmãs daquelas que se estendem além do Atlântico.
Esses dois irmãos, depois de longos anos de trabalho honesto e produtivo conseguiram um mealheiro e adquiriram a fazenda denominada São Mathias, sendo, então, conhecida por fazenda “Dois Irmãos”. Como dito anteriormente, sita a uma légua mais ou menos, de distância da fazenda Pirapetinga.
Inimizaram-se, devido às artimanhas de “Tira-Prosa”, que usufruía proveitos pecuniários de ambos.Um dia, chegou e matou todos os cachorros, quase todos de estimação de Fernando, dizendo que foi a mando de Antônio.
Em conseqüência desse fato que veio a separar os dois irmãos, por uma inimizade criada por Quintino, Antônio Ferraz separou a velha sociedade que tinha com seu irmão. Antônio Ferraz era casado com uma filha de Dona Eleutéria Claudina Fortes, a filha do segundo guarda-mor do Registro de Rio Preto, Francisco Dionísio Fortes de Bustamante.

Inimizaram-se por ter “Tira-Prosa” matado os cachorros de Fernando Ferraz, tendo como conseqüência a transferência de Antônio Ferraz para a fazenda de Pirapetinga.



















Vestígios da fazenda São Mateus. Hoje, Santa Rita. FHOAA 2010.



Já em Santa Rita de Jacutinga “Tira-Prosa” é um homem que só em referir seu nome provoca pânico, pois esperou, na estrada do Passa Vinte, em um morro perto da casa de José Theodoro, seu desafeto José Vilela de Souza Meirelles que não caiu morto sob as punhaladas de seu terrível adversário, por ter galopado o animal.
Matou um homem em São João Marcos, na província do Rio de Janeiro, a man-do de outros, cujo crime ficou impune.
Outro indivíduo que com “ Tira-Prosa”, faz a dupla macabra é Calisto Marques da Silva, natural da vila de Tamanduá ( Itapecerica),desta Província.
Reside na Freguesia de Conservatória, há oito para nove anos. O seu serviço é no trabalho de machado e serras. Doma, também, burros bravios.
Portador de um sangue frio que põe os criminosos na classificação dos desnaturados que pedem o socorro duma intervenção psicopata.
Apenso nº 03 da província- Regimento de Cavalaria Ligeira- Nº01- Nota dos anais do ferrador abaixo declarado, que se evadiu deste Quartel, a 09 de abril de 1859, achando-se preso para sentenciar. Nº 53= Ferrador=Quintino de Lima Sampaio, filho de Manoel Caetano de Lima, natural de Angra dos Reis, nasceu em 1827= altura 62 e 1 /2polegadas, cabelos pretos, olhos pardos, ofício =ferrador, estando solteiro. Quartel em 03 de Maio de 1862. Francisco Joaquim Pinto Pereira = Major Graduado Comandante interino. Conforme o Secretário de Polícia- Leopoldo Henriques Coutinho.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A boca pequena diz que um tal de Mourão ficou de tocaia a beira da estrada a mando do dr. Gabrielzinho a fim de matar Pereira,como também, quando esteve pela última vez em Ouro Preto,havia ali um capanga com intuito de assassiná-lo, não o conseguindo por se desencontrarem.
Pela volta da capital da Província, Pereira encontra frente a frente com dr. Ga-brielzinho, mesmo na ponte do Boqueirão e, este nega cumprimento, coisa que não é de seu costume.

Numa tarde recebe uma intimação para ir à Fazenda de Santa Clara. Não atendeu.
No mesmo dia, à noite, quarenta escravos penetram em sua casa para levá-lo amarrado, o que não conseguiram, pois Pereira se escondera.
No dia seguinte escreveu ao dr. Gabriel uma longa carta pedindo acomodação sobre a estrada,desculpando-se pelo que lhe tinha feito.
Este ao receber a missiva chega até a ridicularizá-lo, dizendo ao portador que já estava terminando sua estrada para oferecê-la ao Governo da Província de Minas, não como a “Estrada Pereira”, que está errada, ficando assim o seu construtor perdido para sempre, pois o Governo não lhe pagaria os serviços prestados.
E, que sua estrada será melhor do que a que passa pelo Boqueirão, depois de acabada.
E, finaliza:
_Nossa família muito tem sofrido com essa luta que se chama Pereira.



Há um incêndio no engenho da fazenda de Santa Clara e os seus proprietários acusam Pereira do fato, abrindo um inquérito na delegacia de polícia da Vila, de que nada se apurou.
Capítulo VI