Por esta insólita agressão Pereira promove contra Moraes um processo.
Pronunciado pelo Juízo de Valença é absolvido pelo Juiz dessa Vila. É seu defensor o doutor Joaquim Saldanha Marinho.[1]
Viscondessa de Monte Verde, (ainda Baronesa), interessa-se pela sorte de Moraes, pagando todas as despesas da causa.
[1] Chefe da democracia brasileira. Nasceu na cidade do Recife a 04 de maio de 1816 e faleceu na Capital Federal a 26 de maio de 1895.
O malogrado bandeirante da terra ribeirinha sendo vítima de tão estúpida agressão, pelo administrador Moraes, vem pelas colunas do “Correio Mercantil”, da Corte, de 22 de maio de 1857, na forma seguinte:
“Vias de Comunicação.
Para o Exm. Sr. Ministro da Justiça e Presidente da Província do Rio de Janeiro verem e meditarem.
Em 24 de dezembro, próximo passado concordou o Sr Conselheiro Antão, Inspetor Geral das Obras Públicas da Província de Minas Gerais, que eu do Bom Jardim tirasse uma picada em direção a minha ponte sobre o rio Preto, no lugar denominado Pirapetinga seguindo as águas do ribeirão do mesmo nome para servir de exame ao engenheiro que devia aprová-la, medindo alterações que julgasse consistentes.
No dia 07 de Janeiro dei princípio ao trabalho, fazendo explorações em três léguas de matos virgens, capoeiras e cultivados, que me habilitaram em reconhecer praticamente o que de há muito tempo estava convencido por cálculos e raciocínios feitos em vinte e seis anos de residência nestes lugares.
Convencido e senhor do terreno reconheci prestar-se otimamente a um nivelamento cuja máxima inclinação jamais pode exceder a cinco por cento isto mesmo em poucos e curtos espaços e para isso obter percorri o terreno por vezes em toda sua extensão sem que na execução destes trabalhos aparecesse um só proprietário que se opusesse aos meus trabalhos tendo mesmo atravessado culturas de algum que é fácil acreditar –se os houvesse em semelhantes distância,muito principalmente sabendo-se que a exploração teve de atravessar as fazendas retalhadas por herdeiros, porém, venho, como já disse, se me opôs e antes, pelo contrário, me prestaram todo o auxílio de que podiam dispor,indicando-me até suas culturas para atravessar julgando ser por elas o mais cômodo e apropriado caminho que todos reconheceram de utilidade pública.
Até parecia que os próprios irracionais se congratularam com a esperança da abertura da um caminho que tinha de melhorar sua sorte..
Por motivos talvez particulares que até hoje ignoro deixou de vir o engenheiro por todo o mês de janeiro fazer os competentes exames motivo esse que me obrigou a oficiar no dia 20 do mês passado ao Exmo Presidente da Província de Minas Gerais, retirando a oferta gratuita de minha ponte que fiz em 06 de agosto próximo passado sob a condição de mandar o mesmo governo abrir quatro léguas de caminho desde o Bom Jardim até à mesma e visto não ter tido resposta alguma a tal respeito estava resolvido a ir abrir o caminho maior ou menor conforme minhas forças o permitissem e Deus me ajudasse, acontece porém que o Exmo Presidente da Província do Rio de Janeiro por informações que talvez teve a meu respeito autorizou-me por uma Portaria datada de 07 de Abril próximo passado para que mandasse abrir uma picada desde Conservatória até a minha ponte para servir de exame aos engenheiros no prolongamento da Estrada do Presidente Pedreira já até aquela povoação se acha definitivamente traçada.
Ora a necessidade dessa estrada que a opinião pública reclama e que pelos jornais se tem mostrado encurtamento e vantagem sem que de leve ao menos fosse por alguém contestado, reunindo ainda autorização da primeira autoridade da Província que devia calar mesquinho e particular capricho, muito principalmente quando se sabe que de uma picada a uma estrada há ainda muitos recursos; acrescendo ainda que não tendo de atravessar indeclinavelmente terreiros da fazenda além do meu e de D. Eleuteria Claudina Fortes que com muito gosto e boa vontade consente a passagem da estrada por todo e qualquer lugar de sua fazenda inclusive o seu próprio terreiro!
Parece que nenhuma oposição deveria encontrar na execução de semelhante picada, enganei-me.
Munido da referida portaria fui no dia 27 do próximo passado fazer as devidas explorações acompanhado unicamente de dois homens livres.
No dia seguinte voltamos à continuação do mesmo trabalho; eis que de repente apareceu um malvado com duas pistolas e uma espingarda opondo-se a continuação da picada e por que eu insistisse apresentando a Portaria de S. Ex. Escapei milagrosamente de ser assassinado; com força armada e acompanhado de um inspetor ministrado pelo subdelegado de Santa Isabel por ordem que teve do Delegado de Polícia da Vila de Valença perante quem apresentei minha queixa contra o assassino, consegui a conclusão da picada nos lugares que d’ela precisava fazer seus estudos.
Acontece, porém que depois de todos retirados do trabalho fui intimado por um oficial do Juízo Municipal por ordem do Sub delegado de Polícia de Santo Antonio do Rio Bonito para levantar os trabalhos da picada até segunda ordem.
O Sr. Dr. Fortes foi quem requereu a interrupção do trabalho; conta-me, porém que não fora seu requerimento deferido e igualmente ignoro o que nesse requerimento alegara, mas que não pode ser mais do que pretextos infundados visto queixar-se para algumas pessoas que eu queria passar com a picada por cima de seu sagrado cemitério;
Quando todos viram e podem ver que a picada passou quase meia légua distante dele e da fazenda!!Quem mandaria o assassino perpetrar um crime tão atroz?
Quem mandaria tentar contra a vida de um pai de família que só tem por defeito querer que se abra um caminho de utilidade pública e economia dos cofres províncias?
Deus o sabe!
Todavia a minha consciência obriga-me a declarar que nenhum dos proprietários por cujas terras a picada atravessou era capaz de semelhante procedimento, nenhum desses alguém por longa série de anos prestam meu serviço com a maior dedicação, desinteresse e amizade era capaz de pagar-me por semelhante maneira.
Não, mil vezes, não!
Muito embora alguns deles não gostem que o caminho se passe por seus terreiros é de meu dever acreditar unicamente que a malvadez está concentrada nas entranhas de um facínora que já tenha vindo de São Paulo por criminoso de morte.
É contra esse malvado que chamo a atenção dos juízes que o devem julgar.
Outro fato poria ainda em dúvida o que minha consciência obriga a acreditar foi o seguinte: Apareceu na picada um homem que assim falou a vista de testemunhas:
-Desejava que o senhor Manoel Pereira me dissesse onde se compram vidas. O senhor Manoel Pereira procura fazer um caminho quando ele tem três que vem a ser, um para o outro mundo, outro para o inferno e outro para o céu.
O senhor Manoel Pereira se continuar a querer mai8s caminho por aqui há de morrer como um passarinho, mesmo cercado de forças armadas e não há de saber quem o matou!
Ainda assim eu acredito que isso não passa de uma estupidez personificada, de uma ignorância completa, de uma brutalidade sem limites, por isso segundo os ditames de minha consciência não quero aproveitar o que a razão manda que o despreze.
Estarei enganado, mas só disso convencerei quando vir que mão potente, incógnita proteja a causa do meu assassino, então reconhecerei estar decretado o meu suplício!
Mas assim prosseguirei no meu intento sacrificando mesmo a própria vida para que o público desfrute uma estrada tão reclamada pela opinião pública.
(a)- Manoel Pereira da Silva Junior.
Piratininga, 10 de maio de 1857.”
Pronunciado pelo Juízo de Valença é absolvido pelo Juiz dessa Vila. É seu defensor o doutor Joaquim Saldanha Marinho.[1]
Viscondessa de Monte Verde, (ainda Baronesa), interessa-se pela sorte de Moraes, pagando todas as despesas da causa.
[1] Chefe da democracia brasileira. Nasceu na cidade do Recife a 04 de maio de 1816 e faleceu na Capital Federal a 26 de maio de 1895.
O malogrado bandeirante da terra ribeirinha sendo vítima de tão estúpida agressão, pelo administrador Moraes, vem pelas colunas do “Correio Mercantil”, da Corte, de 22 de maio de 1857, na forma seguinte:
“Vias de Comunicação.
Para o Exm. Sr. Ministro da Justiça e Presidente da Província do Rio de Janeiro verem e meditarem.
Em 24 de dezembro, próximo passado concordou o Sr Conselheiro Antão, Inspetor Geral das Obras Públicas da Província de Minas Gerais, que eu do Bom Jardim tirasse uma picada em direção a minha ponte sobre o rio Preto, no lugar denominado Pirapetinga seguindo as águas do ribeirão do mesmo nome para servir de exame ao engenheiro que devia aprová-la, medindo alterações que julgasse consistentes.
No dia 07 de Janeiro dei princípio ao trabalho, fazendo explorações em três léguas de matos virgens, capoeiras e cultivados, que me habilitaram em reconhecer praticamente o que de há muito tempo estava convencido por cálculos e raciocínios feitos em vinte e seis anos de residência nestes lugares.
Convencido e senhor do terreno reconheci prestar-se otimamente a um nivelamento cuja máxima inclinação jamais pode exceder a cinco por cento isto mesmo em poucos e curtos espaços e para isso obter percorri o terreno por vezes em toda sua extensão sem que na execução destes trabalhos aparecesse um só proprietário que se opusesse aos meus trabalhos tendo mesmo atravessado culturas de algum que é fácil acreditar –se os houvesse em semelhantes distância,muito principalmente sabendo-se que a exploração teve de atravessar as fazendas retalhadas por herdeiros, porém, venho, como já disse, se me opôs e antes, pelo contrário, me prestaram todo o auxílio de que podiam dispor,indicando-me até suas culturas para atravessar julgando ser por elas o mais cômodo e apropriado caminho que todos reconheceram de utilidade pública.
Até parecia que os próprios irracionais se congratularam com a esperança da abertura da um caminho que tinha de melhorar sua sorte..
Por motivos talvez particulares que até hoje ignoro deixou de vir o engenheiro por todo o mês de janeiro fazer os competentes exames motivo esse que me obrigou a oficiar no dia 20 do mês passado ao Exmo Presidente da Província de Minas Gerais, retirando a oferta gratuita de minha ponte que fiz em 06 de agosto próximo passado sob a condição de mandar o mesmo governo abrir quatro léguas de caminho desde o Bom Jardim até à mesma e visto não ter tido resposta alguma a tal respeito estava resolvido a ir abrir o caminho maior ou menor conforme minhas forças o permitissem e Deus me ajudasse, acontece porém que o Exmo Presidente da Província do Rio de Janeiro por informações que talvez teve a meu respeito autorizou-me por uma Portaria datada de 07 de Abril próximo passado para que mandasse abrir uma picada desde Conservatória até a minha ponte para servir de exame aos engenheiros no prolongamento da Estrada do Presidente Pedreira já até aquela povoação se acha definitivamente traçada.
Ora a necessidade dessa estrada que a opinião pública reclama e que pelos jornais se tem mostrado encurtamento e vantagem sem que de leve ao menos fosse por alguém contestado, reunindo ainda autorização da primeira autoridade da Província que devia calar mesquinho e particular capricho, muito principalmente quando se sabe que de uma picada a uma estrada há ainda muitos recursos; acrescendo ainda que não tendo de atravessar indeclinavelmente terreiros da fazenda além do meu e de D. Eleuteria Claudina Fortes que com muito gosto e boa vontade consente a passagem da estrada por todo e qualquer lugar de sua fazenda inclusive o seu próprio terreiro!
Parece que nenhuma oposição deveria encontrar na execução de semelhante picada, enganei-me.
Munido da referida portaria fui no dia 27 do próximo passado fazer as devidas explorações acompanhado unicamente de dois homens livres.
No dia seguinte voltamos à continuação do mesmo trabalho; eis que de repente apareceu um malvado com duas pistolas e uma espingarda opondo-se a continuação da picada e por que eu insistisse apresentando a Portaria de S. Ex. Escapei milagrosamente de ser assassinado; com força armada e acompanhado de um inspetor ministrado pelo subdelegado de Santa Isabel por ordem que teve do Delegado de Polícia da Vila de Valença perante quem apresentei minha queixa contra o assassino, consegui a conclusão da picada nos lugares que d’ela precisava fazer seus estudos.
Acontece, porém que depois de todos retirados do trabalho fui intimado por um oficial do Juízo Municipal por ordem do Sub delegado de Polícia de Santo Antonio do Rio Bonito para levantar os trabalhos da picada até segunda ordem.
O Sr. Dr. Fortes foi quem requereu a interrupção do trabalho; conta-me, porém que não fora seu requerimento deferido e igualmente ignoro o que nesse requerimento alegara, mas que não pode ser mais do que pretextos infundados visto queixar-se para algumas pessoas que eu queria passar com a picada por cima de seu sagrado cemitério;
Quando todos viram e podem ver que a picada passou quase meia légua distante dele e da fazenda!!Quem mandaria o assassino perpetrar um crime tão atroz?
Quem mandaria tentar contra a vida de um pai de família que só tem por defeito querer que se abra um caminho de utilidade pública e economia dos cofres províncias?
Deus o sabe!
Todavia a minha consciência obriga-me a declarar que nenhum dos proprietários por cujas terras a picada atravessou era capaz de semelhante procedimento, nenhum desses alguém por longa série de anos prestam meu serviço com a maior dedicação, desinteresse e amizade era capaz de pagar-me por semelhante maneira.
Não, mil vezes, não!
Muito embora alguns deles não gostem que o caminho se passe por seus terreiros é de meu dever acreditar unicamente que a malvadez está concentrada nas entranhas de um facínora que já tenha vindo de São Paulo por criminoso de morte.
É contra esse malvado que chamo a atenção dos juízes que o devem julgar.
Outro fato poria ainda em dúvida o que minha consciência obriga a acreditar foi o seguinte: Apareceu na picada um homem que assim falou a vista de testemunhas:
-Desejava que o senhor Manoel Pereira me dissesse onde se compram vidas. O senhor Manoel Pereira procura fazer um caminho quando ele tem três que vem a ser, um para o outro mundo, outro para o inferno e outro para o céu.
O senhor Manoel Pereira se continuar a querer mai8s caminho por aqui há de morrer como um passarinho, mesmo cercado de forças armadas e não há de saber quem o matou!
Ainda assim eu acredito que isso não passa de uma estupidez personificada, de uma ignorância completa, de uma brutalidade sem limites, por isso segundo os ditames de minha consciência não quero aproveitar o que a razão manda que o despreze.
Estarei enganado, mas só disso convencerei quando vir que mão potente, incógnita proteja a causa do meu assassino, então reconhecerei estar decretado o meu suplício!
Mas assim prosseguirei no meu intento sacrificando mesmo a própria vida para que o público desfrute uma estrada tão reclamada pela opinião pública.
(a)- Manoel Pereira da Silva Junior.
Piratininga, 10 de maio de 1857.”