sexta-feira, 31 de julho de 2009

“Correio Mercantil”, da Corte, de 22 de maio de 1857

Por esta insólita agressão Pereira promove contra Moraes um processo.

Pronunciado pelo Juízo de Valença é absolvido pelo Juiz dessa Vila. É seu defensor o doutor Joaquim Saldanha Marinho.[1]

Viscondessa de Monte Verde, (ainda Baronesa), interessa-se pela sorte de Moraes, pagando todas as despesas da causa.

[1] Chefe da democracia brasileira. Nasceu na cidade do Recife a 04 de maio de 1816 e faleceu na Capital Federal a 26 de maio de 1895.




O malogrado bandeirante da terra ribeirinha sendo vítima de tão estúpida agressão, pelo administrador Moraes, vem pelas colunas do “Correio Mercantil”, da Corte, de 22 de maio de 1857, na forma seguinte:


Vias de Comunicação.
Para o Exm. Sr. Ministro da Justiça e Presidente da Província do Rio de Janeiro verem e meditarem.
Em 24 de dezembro, próximo passado concordou o Sr Conselheiro Antão, Inspetor Geral das Obras Públicas da Província de Minas Gerais, que eu do Bom Jardim tirasse uma picada em direção a minha ponte sobre o rio Preto, no lugar denominado Pirapetinga seguindo as águas do ribeirão do mesmo nome para servir de exame ao engenheiro que devia aprová-la, medindo alterações que julgasse consistentes.
No dia 07 de Janeiro dei princípio ao trabalho, fazendo explorações em três léguas de matos virgens, capoeiras e cultivados, que me habilitaram em reconhecer praticamente o que de há muito tempo estava convencido por cálculos e raciocínios feitos em vinte e seis anos de residência nestes lugares.
Convencido e senhor do terreno reconheci prestar-se otimamente a um nivelamento cuja máxima inclinação jamais pode exceder a cinco por cento isto mesmo em poucos e curtos espaços e para isso obter percorri o terreno por vezes em toda sua extensão sem que na execução destes trabalhos aparecesse um só proprietário que se opusesse aos meus trabalhos tendo mesmo atravessado culturas de algum que é fácil acreditar –se os houvesse em semelhantes distância,muito principalmente sabendo-se que a exploração teve de atravessar as fazendas retalhadas por herdeiros, porém, venho, como já disse, se me opôs e antes, pelo contrário, me prestaram todo o auxílio de que podiam dispor,indicando-me até suas culturas para atravessar julgando ser por elas o mais cômodo e apropriado caminho que todos reconheceram de utilidade pública.
Até parecia que os próprios irracionais se congratularam com a esperança da abertura da um caminho que tinha de melhorar sua sorte..
Por motivos talvez particulares que até hoje ignoro deixou de vir o engenheiro por todo o mês de janeiro fazer os competentes exames motivo esse que me obrigou a oficiar no dia 20 do mês passado ao Exmo Presidente da Província de Minas Gerais, retirando a oferta gratuita de minha ponte que fiz em 06 de agosto próximo passado sob a condição de mandar o mesmo governo abrir quatro léguas de caminho desde o Bom Jardim até à mesma e visto não ter tido resposta alguma a tal respeito estava resolvido a ir abrir o caminho maior ou menor conforme minhas forças o permitissem e Deus me ajudasse, acontece porém que o Exmo Presidente da Província do Rio de Janeiro por informações que talvez teve a meu respeito autorizou-me por uma Portaria datada de 07 de Abril próximo passado para que mandasse abrir uma picada desde Conservatória até a minha ponte para servir de exame aos engenheiros no prolongamento da Estrada do Presidente Pedreira já até aquela povoação se acha definitivamente traçada.
Ora a necessidade dessa estrada que a opinião pública reclama e que pelos jornais se tem mostrado encurtamento e vantagem sem que de leve ao menos fosse por alguém contestado, reunindo ainda autorização da primeira autoridade da Província que devia calar mesquinho e particular capricho, muito principalmente quando se sabe que de uma picada a uma estrada há ainda muitos recursos; acrescendo ainda que não tendo de atravessar indeclinavelmente terreiros da fazenda além do meu e de D. Eleuteria Claudina Fortes que com muito gosto e boa vontade consente a passagem da estrada por todo e qualquer lugar de sua fazenda inclusive o seu próprio terreiro!
Parece que nenhuma oposição deveria encontrar na execução de semelhante picada, enganei-me.
Munido da referida portaria fui no dia 27 do próximo passado fazer as devidas explorações acompanhado unicamente de dois homens livres.
No dia seguinte voltamos à continuação do mesmo trabalho; eis que de repente apareceu um malvado com duas pistolas e uma espingarda opondo-se a continuação da picada e por que eu insistisse apresentando a Portaria de S. Ex. Escapei milagrosamente de ser assassinado; com força armada e acompanhado de um inspetor ministrado pelo subdelegado de Santa Isabel por ordem que teve do Delegado de Polícia da Vila de Valença perante quem apresentei minha queixa contra o assassino, consegui a conclusão da picada nos lugares que d’ela precisava fazer seus estudos.
Acontece, porém que depois de todos retirados do trabalho fui intimado por um oficial do Juízo Municipal por ordem do Sub delegado de Polícia de Santo Antonio do Rio Bonito para levantar os trabalhos da picada até segunda ordem.

O Sr. Dr. Fortes foi quem requereu a interrupção do trabalho; conta-me, porém que não fora seu requerimento deferido e igualmente ignoro o que nesse requerimento alegara, mas que não pode ser mais do que pretextos infundados visto queixar-se para algumas pessoas que eu queria passar com a picada por cima de seu sagrado cemitério;
Quando todos viram e podem ver que a picada passou quase meia légua distante dele e da fazenda!!Quem mandaria o assassino perpetrar um crime tão atroz?
Quem mandaria tentar contra a vida de um pai de família que só tem por defeito querer que se abra um caminho de utilidade pública e economia dos cofres províncias?
Deus o sabe!
Todavia a minha consciência obriga-me a declarar que nenhum dos proprietários por cujas terras a picada atravessou era capaz de semelhante procedimento, nenhum desses alguém por longa série de anos prestam meu serviço com a maior dedicação, desinteresse e amizade era capaz de pagar-me por semelhante maneira.
Não, mil vezes, não!
Muito embora alguns deles não gostem que o caminho se passe por seus terreiros é de meu dever acreditar unicamente que a malvadez está concentrada nas entranhas de um facínora que já tenha vindo de São Paulo por criminoso de morte.
É contra esse malvado que chamo a atenção dos juízes que o devem julgar.
Outro fato poria ainda em dúvida o que minha consciência obriga a acreditar foi o seguinte: Apareceu na picada um homem que assim falou a vista de testemunhas:
-Desejava que o senhor Manoel Pereira me dissesse onde se compram vidas. O senhor Manoel Pereira procura fazer um caminho quando ele tem três que vem a ser, um para o outro mundo, outro para o inferno e outro para o céu.
O senhor Manoel Pereira se continuar a querer mai8s caminho por aqui há de morrer como um passarinho, mesmo cercado de forças armadas e não há de saber quem o matou!
Ainda assim eu acredito que isso não passa de uma estupidez personificada, de uma ignorância completa, de uma brutalidade sem limites, por isso segundo os ditames de minha consciência não quero aproveitar o que a razão manda que o despreze.
Estarei enganado, mas só disso convencerei quando vir que mão potente, incógnita proteja a causa do meu assassino, então reconhecerei estar decretado o meu suplício!
Mas assim prosseguirei no meu intento sacrificando mesmo a própria vida para que o público desfrute uma estrada tão reclamada pela opinião pública.
(a)- Manoel Pereira da Silva Junior.
Piratininga, 10 de maio de 1857.”

sábado, 25 de julho de 2009

Capítulo V

Via Crucis.


Elisiario Mariano de Moraes é o administrador da fazenda de Santa Clara.
Vai à casa do feitor Antonio Cleto, pedindo-lhe emprestada uma espingarda para “correr porcos” [1], chamando o escravo Porfírio para esse serviço. Porfírio diz que não pode porque tem que sair de madrugada para outro serviço.
De fato, na manhã seguinte, ainda de madrugadinha, Porfírio sai com seus companheiros para o apanha do café, trabalho que é feito com presteza, empregando neste mister todos os escravos da fazenda.
Ao amanhecer, o escravo Inácio, a mando de Moraes deixa o serviço do apanha do café, e faz uma estrada que começa da lavoura de café, indo até as divisas da fazenda de Santa Clara com a fazenda Santa Tereza, em território da Província do Rio de Janeiro.
Ordenou ainda Moraes que parasse com a picada, onde ouvisse o barulho de foiçadas em baixo, o que foi cumprido pelo preto escravo.
Pronta a picada, Moraes que traz a tiracolo a espingarda adquirida de prevenção na véspera, chama o português Antonio Cleto e penetram pela picada feita pelo escravo Inácio, e, ouvem, mais abaixo, o barulho produzido pelo pedaço de espada de Pereira, que corta o mato.
Pereira está só. Os escravos empregados no serviço do caminho acham-se muito longe, no preparo da estrada.
Moraes, inadvertidamente avança para Pereira e lhe dá com o coice da espingarda no rosto, toma-lhe o pedaço de espada e atira-a fora; entrega a espingarda a Antonio Cleto. Puxa de uma garrucha, aponta para Pereira; a arma nega tiro.
Volta para o feitor, e, Moraes ordena:
-Atire com essa espingarda e já!
Antonio Cleto aponta a espingarda contra Moraes, alça a mira, grita:
-Nada faças com meu patrício, porque é um chefe de família. Inda mais, os portugueses são uns para os outros; se mexeres morres!...
Pereira que está ferido no nariz e olhos, limpando o sangue que escorre pelas faces, diz:
-Se estou aqui é por ordem do Presidente da Província.
-O presidente aqui, diz Moraes, é o Dr. Fortes. Tenho dele, ordens enérgicas para não deixar que tu prossigas com tua estrada, nem mesmo entrar nestas terras.

[1] Locução muito usual na fazenda, "Correr porcos”, “Correr boiadas” é por para fora das porteiras da fazenda os condutores ou porcos, que, quase sempre pernoitam, com sua mercadoria , nos pastos da fazenda.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pensa o desembargador Dr. Antonio Joaquim Fortes de Bustamante, que, com o oferecimento dessa estrada, vinha arruinar Pereira de vez e esse abandonaria a empresa de construir estradas em seus terrenos, e, talvez, suicidaria, pois já está arruinado e, de rico que era já vê sua família na miséria.
A perseguição toma vulto. Pereira não encontra justificativa porque os Fortes votam tanta ojeriza contra sua pessoa e sua estrada, pois o que está fazendo é para o bem público.
Dona Eleuteria, pertencente à família que domina o vale do rio Preto, recebeu a idéia com alegria, enquanto seus parentes cercavam Pereira de tantos ódios e perseguições incessantes a fim de desencorajá-lo em passar sua estrada pelas terras de Santa Tereza, São Fernando e Santa Clara.
Mas, Pereira está estribado numa Portaria assinada pelo Governador da Província do Rio de Janeiro, autorizando a derrubar o mato e cavar a estrada ligando Conservatória à Bom Jardim[1].

[1] Quando estavam em meios os trabalhos iniciados, o Presidente da Província do Rio de Janeiro sabendo do intuito patriótico de Pereira abre um crédito autorizando, a Pereira, a construção da estrada desejada.
Em portaria do Governo da Província do Rio de Janeiro de 07 de Abril de 1857,Pereira obtém autorização para construir a estrada da Freguesia de Conservatória até a ponte de Pirapetinga[1].















Já está quase que terminada, prontas duas terças partes.
Por não entregarem os proponentes a estrada pronta dentro do prazo contratual são obrigados a para uma multa.
A imprensa da Corte borda longos comentários.
Fonte: http://books.google.com.br/books (pesquisa de FHOAA em 21 Julho de 2009).
*Ano de1863, páginas 18. Pesquisa realizada em 2009, comprovando a exatidão dos escritos do autor em 1938. Fonte: http://books.google.com.br/books.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Crime da Cava Grande - José Marinho de Araujo 1938.






Já sem o dinheiro com que antes podia se sombrear com os Fortes e sem a supremacia que têm este nas esferas políticas e administrativas do Império, tolhendo destarte todos os seus passos.
Aparece em meio da luta um membro da família Fortes- o Dr. Gabriel de Ploisqueleck Fortes de Bustamante.
Com seus parentes continua, sob os beneplácitos da viúva de Tereziano, a escrever, nas folhas da Corte, artigos a fim de desmoralizar as obras de Pereira.
O doutor Gabriel, conhecido na intimidade por doutor Gabrielzinho é sobrinho e afilhado da Baronesa de Monte Verde, que mais tarde é agraciada, pelo governo do Império com o título de Viscondessa do Monte Verde.[1]
Doutor Gabrielzinho reside em São João Del Rei. Está passando algum tempo em Santa Clara. Mobiliou uma das casas da Viscondessa na Vila, para passar dias de folguedos ou mesmo tratar dos múltiplos negócios da fazenda.
Quando permanece na cidade é cercado de muita gente. A sua bolsa inextinguível, durante os dias que passa na Vila. Atende a todos, socorre os necessitados.
Os membros da família Fortes, com intuito de neutralizar a estrada que margeia o Pirapetinga, mandam construir uma estrada que ligasse a de Presidente Pedreira à Bom Jardim.[2] [3] E, com grande número de operários inicia a construção da rodovia que parte da Freguesia de Conservatória, passa pela Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, indo até ao barrando do rio Preto, no porto do Zacarias. Daí até a Freguesia do Bom Jardim, doutro lado da Serra da Mantiqueira, passando pela Freguesia de Santa Rita do Jacutinga, galga as serras do Lagarto, Bom Jardim, atingindo a localidade do mesmo nome.
30*Existe na Secretaria do Governo da Província de Minas Gerais um termo pelo qual o Sr Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Carlos José da Silva, Comendador Carlos Theodoro de Souza Fortes, baronesa de Monte Verde e Dr. Gabriel Ploisqueleck Fortes de Bustamante, comprometem-se a dar gratuitamente esta estrada pronta com todas as obras de arte.
Fonte: http://books.google.com.br/books (pesquisa de FHOAA em 21 Julho de 2009).

[1] Agraciada Baronesa em 05 de Fevereiro de 1861 e Viscondessa em 17 de abril de 1867.
[2]* Fonte: http://books.google.com.br/books (pesquisa de FHOAA em 21 Julho de 2009).
[3]

segunda-feira, 20 de julho de 2009

sábado, 18 de julho de 2009


A campanha toma vulto, a opinião pública divide-se, parte para os Fortes, parte para Pereira.
Os artigos são verrinosos, chegando até a se preocupar com a vida privada.
Elementos pereiristas organizam oposição política aos Fortes, fazendo drapejar a bandeira do Partido Liberal na Vila de Rio Preto.
Morre Tereziano,[1]mas a luta continua acesa, quer na imprensa, quer noutros círculos.
Ardorosamente Pereira se defende, mas, com que armas?



[1] Livro de Óbitos de Rio Preto 1849/1871, às folhas 64, falece em São João Del Rei em 24/03/1854 Comendador Francisco Tereziano Fortes... Padre Martiniano Teixeira Guedes.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Capítulo IV Nuvens de Tormenta. continuação...

As árvores são cortadas. A foice e a enxada, em mãos de escravos, fazem aparecer a estrada em terreno dos Fortes.
Dona Eleutéria ajuda a Pereira, entusiasma-o.
Mas, seu irmão, o Barão, não quer que a estrada passe por ali. Quer noutro lugar.
E, Tereziano trava com o bandeirante da terra ribeirinha rancorosa luta na imprensa da Corte.
Os artigos de Pereira vêm assinados. São feitos pelo Padre João de Oliveira, vigário duma das freguesias da Corte, porque sua instrução não alcançava a tanto.
Os do Barão de Monte Verde vêm como da redação, escritos por ele ou por alguém, membro da numerosa família, todos letrados e gozando no Império de destacados postos, quer na magistratura, onde alguns membros da família Bustamante prestam relevantes serviços ao país, quer na política, ou de possuírem um vasto raio de ação.
“O Correio Mercantil” e o “ Imparcial”, são os jornais da Corte que se prestam a esse serviço que ora atinge a uma campanha de difamações recíprocas.

quinta-feira, 16 de julho de 2009


Chegando na encruzilhada da estrada para o Cruzeiro, originária de Santa Rita de Jacutinga. MG













Ainda hoje, o viajante tem que vencer a estrada por esse riacho. Quando chove, a sua passagem é interrompida.






















































Serpentear do Pirapetinga, na beleza de suas margens, o encantamento de um construtor de estrada.













Rio Pirapetinga , seguindo seu curso, a estrada idealizada por Manoel da Silva Pereira Júnior.




Fazendas novas e antigas da linda região.
















Estrada de Manoel Pereira ligando a ponte de Pirapetinga até Bom Jardim, atravessando o Boqueirão da Mira.
















Trechos da Estrada de Manoel da Silva Pereira Júnior.
















Trechos da antiga estrada de Manoel Pereira da Silva Júnior.












Direção: da desembocadura do rio Pirapetinga no rio Preto, em direção ao povoado do Cruzeiro,passando por diversas fazendas, que, hoje, utilizam-se desta estrada que tanta polêmica e retirada da vida de um pai de família, causou. FHOAA 2009