sábado, 25 de julho de 2009

Capítulo V

Via Crucis.


Elisiario Mariano de Moraes é o administrador da fazenda de Santa Clara.
Vai à casa do feitor Antonio Cleto, pedindo-lhe emprestada uma espingarda para “correr porcos” [1], chamando o escravo Porfírio para esse serviço. Porfírio diz que não pode porque tem que sair de madrugada para outro serviço.
De fato, na manhã seguinte, ainda de madrugadinha, Porfírio sai com seus companheiros para o apanha do café, trabalho que é feito com presteza, empregando neste mister todos os escravos da fazenda.
Ao amanhecer, o escravo Inácio, a mando de Moraes deixa o serviço do apanha do café, e faz uma estrada que começa da lavoura de café, indo até as divisas da fazenda de Santa Clara com a fazenda Santa Tereza, em território da Província do Rio de Janeiro.
Ordenou ainda Moraes que parasse com a picada, onde ouvisse o barulho de foiçadas em baixo, o que foi cumprido pelo preto escravo.
Pronta a picada, Moraes que traz a tiracolo a espingarda adquirida de prevenção na véspera, chama o português Antonio Cleto e penetram pela picada feita pelo escravo Inácio, e, ouvem, mais abaixo, o barulho produzido pelo pedaço de espada de Pereira, que corta o mato.
Pereira está só. Os escravos empregados no serviço do caminho acham-se muito longe, no preparo da estrada.
Moraes, inadvertidamente avança para Pereira e lhe dá com o coice da espingarda no rosto, toma-lhe o pedaço de espada e atira-a fora; entrega a espingarda a Antonio Cleto. Puxa de uma garrucha, aponta para Pereira; a arma nega tiro.
Volta para o feitor, e, Moraes ordena:
-Atire com essa espingarda e já!
Antonio Cleto aponta a espingarda contra Moraes, alça a mira, grita:
-Nada faças com meu patrício, porque é um chefe de família. Inda mais, os portugueses são uns para os outros; se mexeres morres!...
Pereira que está ferido no nariz e olhos, limpando o sangue que escorre pelas faces, diz:
-Se estou aqui é por ordem do Presidente da Província.
-O presidente aqui, diz Moraes, é o Dr. Fortes. Tenho dele, ordens enérgicas para não deixar que tu prossigas com tua estrada, nem mesmo entrar nestas terras.

[1] Locução muito usual na fazenda, "Correr porcos”, “Correr boiadas” é por para fora das porteiras da fazenda os condutores ou porcos, que, quase sempre pernoitam, com sua mercadoria , nos pastos da fazenda.

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