segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo XIII


Descoberto



Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, à margem do rio Preto, está inquieto, pois espera Pereira desde o dia 21e já estamos no 23 e este ainda não regressara.
Volta de Santa Rita, Francisco de Paula Dias Moreira, administrador da fazenda da Marquesa de Valença, trazendo a notícia de que Pereira não chegara a Santa Rita, procurando-o em casa de um parente, Francisco Carneiro, onde sempre se hospedava e, na volta, soube por seu irmão que ele não estivera em sua casa e nem subira para o Boqueirão.
Dias Moreira traz consigo uma outra carta do engenheiro Belo para Manoel Pereira.
Quem sabe se a vindita dos Fortes realiza-se conjectura Fonseca Moura, em sua casa comercial, comentando o desaparecimento de Pereira, ao grande número de fregueses que se acotovela ao balcão.
Todos apoiam o que disse Fonseca Moura fazendo em torno do desaparecimento de Pereira os mais horrorosos comentários, desenhando quadros terríveis dados aos preparativos e ameaças feitas pela gente da fazenda Santa Clara, senhora do vale do rio Preto.
Com razão, pois Dias Moreira notou, pela sua passagem na passagem da Cava Grande, o roçado e aterrado recentes e no mato abaixo alguns salpicos de sangue.
Combinou-se, antes, procurar Pereira e avisar a seu irmão, saindo muitas pessoas suas amigas, para diversos lados, também Manoel Teixeira Machado, caixeiro de Moura. Isso agora em 24 de maio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os maltratos diminuem e seus algozes mudam de ação.
Querem convencer a Carapina que se esqueça da morte de Pereira, prometendo até compra-lo e livrá-lo, se fizesse o que eles mandassem.
Foi nessa ocasião conduzido para o engenho e lá esteve oculto por duas noites, saindo depois com João Ilheo, o administrador de Santa Clara e João Barbado mais dois escravos trazidos de Santa Clara para Pirapetinga para o serviço já planejado. É que Alexandre de tal e Antônio Ferreira de Mendonça levaram o o fato ao conhecimento de Dr. Gabrielzinho e este lhes entregou algum dinheiro.
Quando amanheceu, Carapina sai do engenho com um lenço atado à boca, acompanhado por toda essa gente, com destino à fazenda dos Dutra (terras de D. Eleuteria) sendo assassinado friamente, a pauladas, e como não acabou de morrer com as pauladas, deram-lhe uma facada .
A cova de Carapina está ao lado da serra no caminho de Santa Isabel, no pé de uma bananeira, num canavial de terras de D. Eleuteria.
Os paus que o mataram estão em cima da cova onde foi enterrado assim também a carapuça que usava. Logo após o seu enterramento uma escrava velha que tudo assistira, ajoelha sobre a sepultura e faz preces pelo infeliz Manoel Carapina.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fazenda de Pirapetinga, hoje, São Francisco.

Capítulo XII.


Na Fazenda Pirapetinga.



Pirapetinga, o antigo solar de Pereira, se ergue altaneira na barranca do rio Preto.
Foi ali que o malogrado bandeirante, da terra ribeirinha fez a sua fortuna e foi ali que se concebeu a trama para o seu martírio e desdita de sua família.
A docilidade de um lar que ali se formou, soprado pela for-tuna adquirida por um trabalho honesto e duradouro, foi destru-ída. Será que, existe entre aquelas paredes, o mesmo sossego de outros tempos? Não! Os seus habitantes são outros e ali fez do-mínio, a inquietação. A fazenda é cercada de uma vigilância enorme.
Vamos ver o que ali se passa.
Os bastidores têm os seus mistérios, têm os seus horrores. Às vezes cambiantes poéticas, às vezes páginas manchadas de sangue.
Faz-se na fazenda, a batida de feijão nos dias que agora de-correm. Há aglomeração de escravos em volta da grande quanti-dade de feijão em vagem, estendida pelo chão, munidos de compridas varas, surrando o feijão para o desgarramento do in-vólucro.
Entre os escravos, estão Manoel Carapina ex-escravo de Pereira, quando proprietário da fazenda Pirapetinga, e sua mulher, a escrava Josefa.
Entre os dois houve uma discussão, e Carapina espanca Jo-sefa, com a vara, com tanta infelicidade que esta fica prostrada no chão, vindo a falecer pouco depois, devido às pancadas recebidas.
O preto escravo é por isso preso num tronco de campanha, na mesma fazenda.
A justiça nas fazendas é geralmente, distribuída pelos seus proprietários ou pelos seus auxiliares.
Nessa emergência, João Francisco de Azevedo, administra-dor de Santa Clara, que aí se achava, começa a maltratar o preto escravo, pelo crime de uxoricídio. E, este entre maltratos a ele in-fringidos, clama:
_Porque eu sou tão maltratado assim por um criminoso também! Si matar Pereira, meu senhor, não é crime, matar Josefa, também não o é. Se continuarem, fujo daqui e vou denunciar à Justiça, os matadores do meu senhor Pereira. Sei bem quem o matou, onde, como e quando.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Calixto insiste para retirar-se de Santa Clara, mas o Dr. Gabrielzinho não consente: quer ver primeiro o local do crime. E, para lá se dirigem.
Até o dia 18, antevéspera do crime, trabalharam próximo a Cava Grande, alguns escravos, no serviço de matar formigas. Por precaução, foram retirados pelo administrador João Francisco de Azevedo, o João Ilhéo. Há, ali, um capoeirão que não é abatido a machado ou a foice, há vinte anos, mais ou menos. O Dr. Gabrielzinho ordena ao administrador que faça ali uma limpeza, o que cumpriu João Ilhéo, chamando Jacob, feitor das derrubadas, e Estevão, capataz de tropa, determinando-lhes que no dia seguinte, domingo, de manhã, fossem com oito derrubadores e seis tropeiros roçar o mato do lugar do crime e entupir o tijuco do pé da porteira, encobrindo, assim, os vestígios do crime. Esse serviço é feito na manhã de domingo, contra os costumes da fazenda, que não permite trabalhos aos domingos, serviço que é terminado às nove horas da manhã.
Viam-se ainda pela porteira alguns salpicos de sangue, coisa que é notada por Antônio Jose de Novais, que vem de Santa Rita para a Vila, julgando ter-se ali sangrado algum animal.
Uma preocupação que salta a cabeça de João Ilheo, é a presença das correntes na fazenda, correntes iguais à que está amarrada em Pereira, no fundo do rio. É um indício seguro para investigações policiais, e por isso mandou que se escondessem todas, retirando as que estavam em serviço e ordenou o fabrico de novas tiradeiras de madeira, como também cangas novas e arreios de couro cru.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Capítulo XI .Crime da Cava Grande José Marinho de Araújo.

Capítulo XI

Na Fazenda Santa Clara.

Logo após ao martírio de Pereira, Calixto é visto na fazenda, com camisa e calça de pano azul, molhado da cintura para baixo,chegando com uma espingarda na mão.
Um velho escravo, o Tiago de Nação Cabinda, pergunta-lhe o que estava fazendo e Calisto responde:
_Atirei uma capivara na volta do rio, na lavra do João Brumado.
Dessa hora em diante, cria-se uma vigilância permanente pelos arredores da fazenda feita por sua gente.
Todos que passam pela estrada são reconhecidos pelos seus habitantes que se acham às escondidas.
O Dr. Gabrielzinho, logo que o espetáculo da Companhia Dramática Cabral terminara, ordenou a Calixto e Tira Prosa, que incontinente, regressassem à fazenda, prometendo faria o mesmo no dia imediato, o que cumpriu, chegando à fazenda antes do amanhecer.
Pintar aqui a luta que se travou no íntimo do Dr. Gabrielzinho, será cousa impossível, considerando a fraqueza das tintas com que o autor dispõe em sua palheta e a ineficiência de seu pincel.
É uma dessas lutas terríveis que assaltam o cérebro. É a consciência com voz mais forte, mais autoritária, transforma a alma num báratro. E o Dr. Gabrielzinho tinha momentos de revolta, mas, acusar a quem?
Ele próprio contribuíra para lançar Pereira no túmulo das águas do rio Preto. Não! Os seus cúmplices exorbitaram as suas funções. Mas, que fazer a sua condição de mandante desse crime, monstruoso, não se alterava. Denunciar? Quem? A quem? E a sua condição de Juiz de Direito? Confiava na discrição das águas mansas do rio Preto.
Na tarde desse dia foi, com Tira Prosa, dar um sal no gado, na fazenda dos Batistas.
No terceiro dia, depois do almoço, saiu com o mesmo e João Ilhéu, administrador da fazenda, em direção a Santa Rita, passando pela casa de Antonio Ferraz a fazenda Pirapetinga, mas voltou antes de chegar a Santa Rita.
Francisco Dineli e dois outros, seus companheiros, de nomes Francisco e Ludgero, artistas que faziam parte da Companhia Dramática Cabral, tornaram-se, antes do crime, amigos inseparáveis de Calixto e Tira Prosa, e, logo após o crime, vem à fazenda conversar com Dr. Gabrielzinho e daí desaparecem, sem mesmo voltar a Vila, deixando de acertar com Candiane com quem se contrataram.
Estes como Tira Prosa andavam sem vintém e logo após o assassinato, exibiam suas carteiras cheias, com notas de cem mil réis.
Cúmplices ou autores da morte de Pereira que fugiram à responsabilidade, com certeza. (Nos autos do Processo, nada consta a respeito). Tira Prosa retirou-se da fazenda antes do crime, com pretexto de ir à Corte, mas tomou rumo a Santa Rita e voltou com Calixto.
Ambos, durante os oito dias que antecederam ao crime, não dormiam durante a noite, saindo e voltando à fazenda, com pretexto de correrem os boiadeiros, que, de vez em quando, dormiam nos pastos da fazenda.