À fraqueza da luz ambiente, cá fora, quase não se pode reconhecer quem chega. Mas, quem sobe uma pequena escada, de poucos degraus, ali existente, e olha para o interior do prédio, aprecia outro aspecto. Está iluminada com a luz a gás. Distingue-se à porta principal do prédio, o Dr. Gabrielzinho, muito gentil, convidando a seus amigos a subir.
Não falta pessoa alguma de importância dessas paragens neste anunciado espetáculo.
Havia, ali, portadores de títulos nobiliárquicos, cujos nomes já citamos em tópicos anteriores, os elementos representativos da Vila, o Juiz de Direito - Dr. Gabrielzinho- o Promotor de Justiça, Dr. José Joaquim Fernandes Torres Junior, o Delegado de Polícia, Manoel José Espínola, o Vigário da Freguesia, Padre Martiniano Teixeira Guedes.
Um observador político se ali estivesse, pondo as suas qualidades em ação, consignar-se-ia logo, em sua crônica, a ausência completa do elemento liberal da Vila.
Havia ali somente partidários do Conservador.
À luz da gambiarra , Candiani canta,levando o seu auditório seleto e exigente às paragens da Arte, do sonho...
Alguns dos espectadores chegam a se levantar, tal o efeito causado pela voz de Candiani.
Os aplausos chovem. Outros artistas apresentam os seus trabalhos
Ao término do espetáculo, Candiani aparece para agradecer aos aplausos, quando o Dr. Gabrielzinho e Comendador Carlos Teodoro de Souza Fortes dirigem-se ao palco e jogam flores sobre a cabeça da consagrada artista.
Uma salva de palmas acompanhada de contentamentos, confessando que a Vila jamais tivera momento como esse.
Saem todos.
Dois vultos na semi-escuridão da rua abordam Dr. Gabrielzinho. São “Tira-Prosa” e Calixto, que de volta da Cava Grande, vêm dar conta do serviço feito- a morte de Pereira
Disputa entre os partidos Liberal e Conservador, entre homens, por caminhos diferentes.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Candiani em Rio Preto ( cont...).
Na parte comercial há aglomeração. Não gente que vai ao teatro ouvir Candiani. É o grande número de curiosos na vontade de conhecer a pompa com que os Fortes revestem a permanência da artista na terra onde se fizeram.
Anoitece.
Os lampiões da extensa Rua Direita. Do largo do Porto e da Praça Central, com seus focos quase que pálidos quebram a escuridão ponto a ponto, lançando na continuidade de seu curso uma cambiante desoladora.
Todos movem em direção ao prédio da Rua Direita, Beco do Porto, para assim ouvir Candiani.
É um prédio assobradado, com o rez–do-chão calçado com lajes enormes de pedra, com uma escada granítica que dá acesso ao sobrado.
Anoitece.
Os lampiões da extensa Rua Direita. Do largo do Porto e da Praça Central, com seus focos quase que pálidos quebram a escuridão ponto a ponto, lançando na continuidade de seu curso uma cambiante desoladora.
Todos movem em direção ao prédio da Rua Direita, Beco do Porto, para assim ouvir Candiani.
É um prédio assobradado, com o rez–do-chão calçado com lajes enormes de pedra, com uma escada granítica que dá acesso ao sobrado.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Candiani em Rio Preto
Da alfaiataria de Anselmo da Cunha Pinto Magalhães, os rapazes da Vila saem com embrulhos, contendo fatiota nova que será exibida no grande dia de hoje.
No rio Preto o movimento de barcos é importante.
A ponte do caminho da Corte, no largo do Porto, está cheia de curiosos, assistindo o movimento da chegada dos barcos que descem das fazendas margeantes do rio.
Dr. Gabriel Ploisquellecc Fortes de Bustamante, Juiz de Direito da Comarca, es-palhou convites a todas as pessoas de destaque da redondeza.
Vários esperam quem chega a Vila
Da janela do hotel, de quase todas as casas, pessoas ansiosas, aguardavam a chegada dos convidados.
Uma liteira desce a rua que margeia a rio em direção a fazenda Santa Clara.
É a Viscondessa que chega. Escravos carregam a liteira. Mucamas, a cavalo guardam o veículo conduz dona Maria Teresa de Souza Fortes, viscondessa de Monte Verde, viúva do Comendador Thereziano, barão de Monte Verde, senhora da fazenda Santa Clara.
Pela ponte, entra na Vila, o desembargador aposentado do então tribunal do Distrito na Corte, doutor Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Comendador da ordem de Cristo e Cavaleiro da Casa Imperial. É senhor da Fazenda de São Paulo, entre pajens.
Chega Carlos Teodoro de Souza Fortes, comendador da Ordem da Rosa, senhor da fazenda São Fernando.
A marquesa de Valença vem de sua fazenda- São Luiz- em aparatoso barco que atraca no largo do Porto.
O largo do Porto é o local mais movimentado da Vila.
Aí tem a guarda-moria e a maior parte das casas comerciais.
Até pouco tempo era chamado o largo do Cruzeiro, por ter aí um Cruzeiro fincado por ocasião que o Visconde Athayde, governador das Minas, mandou abrir esse sertão à mineração.
Rio Preto está entregue às festanças pomposas, pois a estadia da cantora em seu meio é grande acontecimento.
As ruas cheia de povo; misturam-se fidalgos, a plebe e os escravos; a indumentária é a mais variada possível.
Ao crepúsculo a praça central da Vila, contra os seus costumes, está movimentada.
No rio Preto o movimento de barcos é importante.
A ponte do caminho da Corte, no largo do Porto, está cheia de curiosos, assistindo o movimento da chegada dos barcos que descem das fazendas margeantes do rio.
Dr. Gabriel Ploisquellecc Fortes de Bustamante, Juiz de Direito da Comarca, es-palhou convites a todas as pessoas de destaque da redondeza.
Vários esperam quem chega a Vila
Da janela do hotel, de quase todas as casas, pessoas ansiosas, aguardavam a chegada dos convidados.
Uma liteira desce a rua que margeia a rio em direção a fazenda Santa Clara.
É a Viscondessa que chega. Escravos carregam a liteira. Mucamas, a cavalo guardam o veículo conduz dona Maria Teresa de Souza Fortes, viscondessa de Monte Verde, viúva do Comendador Thereziano, barão de Monte Verde, senhora da fazenda Santa Clara.
Pela ponte, entra na Vila, o desembargador aposentado do então tribunal do Distrito na Corte, doutor Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Comendador da ordem de Cristo e Cavaleiro da Casa Imperial. É senhor da Fazenda de São Paulo, entre pajens.
Chega Carlos Teodoro de Souza Fortes, comendador da Ordem da Rosa, senhor da fazenda São Fernando.
A marquesa de Valença vem de sua fazenda- São Luiz- em aparatoso barco que atraca no largo do Porto.
O largo do Porto é o local mais movimentado da Vila.
Aí tem a guarda-moria e a maior parte das casas comerciais.
Até pouco tempo era chamado o largo do Cruzeiro, por ter aí um Cruzeiro fincado por ocasião que o Visconde Athayde, governador das Minas, mandou abrir esse sertão à mineração.
Rio Preto está entregue às festanças pomposas, pois a estadia da cantora em seu meio é grande acontecimento.
As ruas cheia de povo; misturam-se fidalgos, a plebe e os escravos; a indumentária é a mais variada possível.
Ao crepúsculo a praça central da Vila, contra os seus costumes, está movimentada.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Crime da Cava Grande: Assassinato de Manoel Pereira 20 de maio de 1863.
As suas mãos são amarradas aos pés, com um cabresto que o Dr. Gabriel servia em sua mula, comprado em São João Del Rei. Um escravo traz uma corrente que é usada na fazenda para tiradeira de carro, que é amarrada no cabresto e na extremidade desta corrente é amarrada uma pedra de arroba e meia. Posto numa canoa, foi o corpo atirado no rio Preto, a dez braças da margem.
A mula preta tordilha cavalgada por Pereira é também sacrificada.
O cadáver da mula, o seu encilhamento, vestuário de Pereira, são enterrados ao pé da mata, acima da Cava Grande, onde, até a véspera, escravos da fazenda matavam um formigueiro.
O crime perpetrado pela gente da fazenda de Santa Clara é consumado em plena luz do sol, fria e barbaramente.
As águas mansas do rio Preto fecharam-se; ali seria o túmulo de Manoel Pereira da Silva Júnior.
Qual visão, numa mesma noite, aparecem a Baltazar José dos Santos, fazendeiro ao longo da estrada do Boqueirão, dois boiadeiros desconhecidos que testemunharam com horror o hediondo crime, relatando, assustados ainda, o drama da Cava Grande.
Capítulo X
Na Vila.
O antigo “Arraial de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto”, hoje se apresentando com outros aspectos devido aos melhoramentos introduzidos na Vila do Presídio pela fidalga família dos Fortes, sentindo-se assim, os reflexos do progresso.
Estamos a 20 de maio de 1863. È na Vila um dia movimentado, quebrando o ritmo costumeiro da localidade ribeirinha. É porque Candiani , a grande cantora lírica, que já é uma estrela fulgurante no costelário da arte, fulgor conquistado numa peregrinação pelos palcos europeus e sulamericanos. Na sua passagem pela Corte, os Fortes convidaram-na para cantar na Vila.
A sua estréia está marcada para a noite.
E, todos já prevêem que o prédio, não pequeno que serve para o teatro, à rua Direita, no beco do Porto, será diminuto para caber tanta gente, tal o interesse despertado lá fora com a notícia da vinda de da grande artista.
A Companhia Dramática Cabral, a quem pertence a cantora, aboletou-se no hotel de Antonio José Rodrigues Viana,( primeiro beco, quem vai do lado do rio Preto, partindo da praça central), que está com seus cômodos todos tomados.
Os galãs da Companhia Dramática Cabral, com os seus cabelos longos, empoados, roupas pelo figurino da Corte de D. João VI, espalhavam-se na espaçosa praça central da Vila, à sombra da capela de Nosso Senhor dos Passos, padroeiro da Vila, do centro do cemitério, encravado nas encostas do morro dos Beatos a cavaleiro da praça central e Rua Direita.
As moças, com suas saias balão, trocam sorrisos com os galãs.
A mula preta tordilha cavalgada por Pereira é também sacrificada.
O cadáver da mula, o seu encilhamento, vestuário de Pereira, são enterrados ao pé da mata, acima da Cava Grande, onde, até a véspera, escravos da fazenda matavam um formigueiro.
O crime perpetrado pela gente da fazenda de Santa Clara é consumado em plena luz do sol, fria e barbaramente.
As águas mansas do rio Preto fecharam-se; ali seria o túmulo de Manoel Pereira da Silva Júnior.
Qual visão, numa mesma noite, aparecem a Baltazar José dos Santos, fazendeiro ao longo da estrada do Boqueirão, dois boiadeiros desconhecidos que testemunharam com horror o hediondo crime, relatando, assustados ainda, o drama da Cava Grande.
Capítulo X
Na Vila.
O antigo “Arraial de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto”, hoje se apresentando com outros aspectos devido aos melhoramentos introduzidos na Vila do Presídio pela fidalga família dos Fortes, sentindo-se assim, os reflexos do progresso.
Estamos a 20 de maio de 1863. È na Vila um dia movimentado, quebrando o ritmo costumeiro da localidade ribeirinha. É porque Candiani , a grande cantora lírica, que já é uma estrela fulgurante no costelário da arte, fulgor conquistado numa peregrinação pelos palcos europeus e sulamericanos. Na sua passagem pela Corte, os Fortes convidaram-na para cantar na Vila.
A sua estréia está marcada para a noite.
E, todos já prevêem que o prédio, não pequeno que serve para o teatro, à rua Direita, no beco do Porto, será diminuto para caber tanta gente, tal o interesse despertado lá fora com a notícia da vinda de da grande artista.
A Companhia Dramática Cabral, a quem pertence a cantora, aboletou-se no hotel de Antonio José Rodrigues Viana,( primeiro beco, quem vai do lado do rio Preto, partindo da praça central), que está com seus cômodos todos tomados.
Os galãs da Companhia Dramática Cabral, com os seus cabelos longos, empoados, roupas pelo figurino da Corte de D. João VI, espalhavam-se na espaçosa praça central da Vila, à sombra da capela de Nosso Senhor dos Passos, padroeiro da Vila, do centro do cemitério, encravado nas encostas do morro dos Beatos a cavaleiro da praça central e Rua Direita.
As moças, com suas saias balão, trocam sorrisos com os galãs.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Assassinato de Manoel da Silva Pereira Júnior.
Não obstante a apresentação dessa carta a seu amigo Moura, este insiste com Pereira, que permaneça em sua casa até o dia seguinte, pois era mais de meio dia e não chegaria ainda com sol em Santa Rita, arriscando-se a viajar sozinho pelas terras dos Fortes, advertindo-lhe que a gente da Baronesa é capaz de fazer-lhe algum mal.
Expôs-lhe que no dia seguinte seria acompanhado de Francisco de Paula Dias Moreira, que agora é administrador da Fazenda de São Luiz, da viscondessa de Valença, que seguia para Santa Rita.
Se o faz porque sabe que os Fortes estão desesperados por ter Pereira ganho a questão da estrada e já espera um desfecho menos agradável; dá-lhe a notícia de que é Juiz de Direito de Rio Preto, desde o dia 10 de maio corrente, o Doutor Gabriel Ploesquelecc Fortes de Bustamante.
Pereira não aceita o convite alegando que tem que pernoitar em casa de seu irmão José Pereira, que mora em uma casa sita defronte a casa de Fernando Ferraz, a fazenda de São Mathias, do lado de Minas, para chegar mais cedo à Santa Rita.
Às duas horas, mais ou menos, Pereira despede-se de seu amigo Joaquim da Fonseca Moura e precisamente às três e meia entra nos domínios da fazenda de Santa Clara.
Veste neste mesmo dia, calça de casimira clara, colete do mesmo pano, sobre-casaca e chapéu preto e com seu chapéu de sol roxo, cobrindo ao sol. Cavalga u’a mula preta tordilha.
Aproxima-se da sede da fazenda Santa Clara.
Ao passar pela frente da casa da fazenda, a um sinal convencionado, Calixto, que já está de espera, sai e o acompanha armado de uma espingarda e, um estoque dentro de um velho e amontado em uma besta preta, pertencente à “Tira-Prosa”, puxando um cavalo baio de cauda preta.
“Tira-Prosa”, aos saltos, enche seu revolver de balas, e pega numa faca comprida, de ponta, com cabo, bocal e ponteiro de prata, e salta em cima do lombo de u’a mula pelo rabo, pertencente ao doutor Gabrielzinho.
Eles já tinham prevenido estes animais para se servirem no momento oportu-no.
Enquanto isso, Pereira, ao marchar de seu animal, afasta-se da casa da fazenda.
A Cava Grande, lugar onde tem uma porteira, era, até pouco tempo, a divisa da fazenda de Santa Clara e Santa Tereza. É um corte onde passa a estrada que margeia rio acima, até a barra do Pirapetinga, e daí, em busca da freguesia de Bom Jardim, traçado que já conhecemos.
Pereira força a porteira com o cabo do guarda-chuva. Não cede. Está amarrada com um cipó ao batente.
Tira, Pereira, o pé do estribo a fim de apear para desembaraçar a porteira.
Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.
Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estirando-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, pelas cos-tas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.
Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estirando-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Aí começa o suplício do malogrado construtor de estradas, que dura meia hora. Vão lhe furando os olhos, cortando as orelhas, os lábios e o nariz.
Para tornarem-se despercebidos os gritos de Pereira, um escravo da fazenda, canta em voz alta. Antonio Joaquim de Oliveira, vulgo Antonio Raimundo, que mora em São Pedro do Taguá, à margem do rio Preto, dirigia-se a uma casada colônia da fazenda Santa Tereza, de dona Eleutéria, surpreende-se com aquele quadro.
Horrorizado escondeu-se na mata, a cavaleiro da Cava Grande. Entre os assassinos reconhece o escravo Porfírio.
Pereira, entre extorsões de dores, já agonizante, liga, quase que impercepti-velmente, estas palavras:
_Matem-me, mas não judiem de mim.
Uma faca entra nervosamente em cena. A sua língua é cortada, os seus dentes são quebrados.
“Tira-Prosa” sangra com o punhal o inditoso Manoel Pereira que dá o último suspiro.
O seu cadáver está completamente nu e com aspecto horrível.
Uma só ferida !
Expôs-lhe que no dia seguinte seria acompanhado de Francisco de Paula Dias Moreira, que agora é administrador da Fazenda de São Luiz, da viscondessa de Valença, que seguia para Santa Rita.
Se o faz porque sabe que os Fortes estão desesperados por ter Pereira ganho a questão da estrada e já espera um desfecho menos agradável; dá-lhe a notícia de que é Juiz de Direito de Rio Preto, desde o dia 10 de maio corrente, o Doutor Gabriel Ploesquelecc Fortes de Bustamante.
Pereira não aceita o convite alegando que tem que pernoitar em casa de seu irmão José Pereira, que mora em uma casa sita defronte a casa de Fernando Ferraz, a fazenda de São Mathias, do lado de Minas, para chegar mais cedo à Santa Rita.
Às duas horas, mais ou menos, Pereira despede-se de seu amigo Joaquim da Fonseca Moura e precisamente às três e meia entra nos domínios da fazenda de Santa Clara.
Veste neste mesmo dia, calça de casimira clara, colete do mesmo pano, sobre-casaca e chapéu preto e com seu chapéu de sol roxo, cobrindo ao sol. Cavalga u’a mula preta tordilha.
Aproxima-se da sede da fazenda Santa Clara.
Ao passar pela frente da casa da fazenda, a um sinal convencionado, Calixto, que já está de espera, sai e o acompanha armado de uma espingarda e, um estoque dentro de um velho e amontado em uma besta preta, pertencente à “Tira-Prosa”, puxando um cavalo baio de cauda preta.
“Tira-Prosa”, aos saltos, enche seu revolver de balas, e pega numa faca comprida, de ponta, com cabo, bocal e ponteiro de prata, e salta em cima do lombo de u’a mula pelo rabo, pertencente ao doutor Gabrielzinho.
Eles já tinham prevenido estes animais para se servirem no momento oportu-no.
Enquanto isso, Pereira, ao marchar de seu animal, afasta-se da casa da fazenda.
A Cava Grande, lugar onde tem uma porteira, era, até pouco tempo, a divisa da fazenda de Santa Clara e Santa Tereza. É um corte onde passa a estrada que margeia rio acima, até a barra do Pirapetinga, e daí, em busca da freguesia de Bom Jardim, traçado que já conhecemos.
Pereira força a porteira com o cabo do guarda-chuva. Não cede. Está amarrada com um cipó ao batente.
Tira, Pereira, o pé do estribo a fim de apear para desembaraçar a porteira.
Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.
Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estirando-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, pelas cos-tas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.
Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estirando-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Aí começa o suplício do malogrado construtor de estradas, que dura meia hora. Vão lhe furando os olhos, cortando as orelhas, os lábios e o nariz.
Para tornarem-se despercebidos os gritos de Pereira, um escravo da fazenda, canta em voz alta. Antonio Joaquim de Oliveira, vulgo Antonio Raimundo, que mora em São Pedro do Taguá, à margem do rio Preto, dirigia-se a uma casada colônia da fazenda Santa Tereza, de dona Eleutéria, surpreende-se com aquele quadro.
Horrorizado escondeu-se na mata, a cavaleiro da Cava Grande. Entre os assassinos reconhece o escravo Porfírio.
Pereira, entre extorsões de dores, já agonizante, liga, quase que impercepti-velmente, estas palavras:
_Matem-me, mas não judiem de mim.
Uma faca entra nervosamente em cena. A sua língua é cortada, os seus dentes são quebrados.
“Tira-Prosa” sangra com o punhal o inditoso Manoel Pereira que dá o último suspiro.
O seu cadáver está completamente nu e com aspecto horrível.
Uma só ferida !
sábado, 10 de abril de 2010
Capítulo XIX
Capítulo XIX
O Thabor de Pereira.
Manoel Pereira da Silva Júnior já não é o abastado fazendeiro da Pirapetinga, já não tem aquele entusiasmo de outrora. É já um homem sumido pelos revezes da vida. Está completamente arruinado e sua família jogada na miséria.
Do fausto à pobreza. Assim mesmo a perseguições dos Fortes continua.
Só uma coisa o salva: o reconhecimento a utilidade e adaptação de sua estrada pelo Governo de Minas.
E a oposição dos Fortes, senhores de posições quer na política da Província de Minas Gerais, quer na magistratura provincial quer na imperial.
Tinha que se entregar ao sacrifício da miséria e deixar seus filhos na orfandade, desdita que já sonhara Pereira.
A trama para seu extermínio está se urdindo.
A casa sede da fazenda Pirapetinga, que se debruça sobre a margem direita do rio Preto é teatro da trama.
Foto atual da fazenda Pirapetinga,( São Francisco). FHOAA 2009
Das janelas do lado do rio, avista-se a estrada que vem do Bom Jardim à vila do Rio Preto.
Numa dessas salas a que servem essas janelas, estão o proprietário da fazenda Antônio Francisco Ferraz, o Dr. Gabrielzinho e “Tira-Prosa”, quando pela estrada, desce o infortunado construtor de estradas.
Ferraz diz ao desumano “Tira-Prosa”:
_ Lá vai ele!
O doutor Gabriel acrescenta:
_Repare bem, para conhecê-lo Bem.
Manoel Joaquim, o “Tira-Prosa”,responde, num gesticular de ombros:
_Aquilo não é nada pra mim. Deixe-o passar para baixo que na volta eu acabo com ele.
De fato Pereira vinha a Vila tratar de seus negócios mal amparados.
02 de maio de 1863.
O dia amanhece cheio de sol.
É o dia consagrado ao martírio do construtor da estrada do Boqueirão da Mira, que de volta da Vila, passa em casa de seu patrício Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, sob a firma Cardoso Nogueira+ Moura, casa que fica distante da fazenda de Santa Clara, duas léguas mais ou menos.
Pereira está de regresso da Vila e com muita urgência, pois tem de seguir para Santa Rita, a fim de atender um chamado por carta de seu amigo Cassiano Ferreira de Mendonça, dando-lhe a boa nova de ter chegado a Santa Rita do Jacutinga, um engenheiro do Estado, o doutor Modesto de Faria Bello, que desejava encontrar-se com o construtor da estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.
A carta de seu amigo de Santa Rita está vazada nestes termos:
“ Senhor Manoel Pereira da Silva Júnior.
Compadre e Amigo.
Comunicou-me hoje o engenheiro que já tinha recebido ofício do Presidente autorizando-lhe a contratar a conservação da estrada do Boqueirão e que hoje ia pousar em casa de Ferraz amanhã cedo principiava a examiná-la e que logo no outro dia que vmecê lá passou recebeu o dito ofício por um preto de Santa Clara; será bom que vocemecê venha assistir e contratar. Ele falou para esse ficar e eu lhe disse que lhe preferia, e assim me pediu para lhe fazer ciente do ocorrido. Muito estimarei que fique logo bom do incômodo; eu e sua comadre, muito recomendamos a comadre e as meninas, e aqui estamos para o que lhe for prestante como quem é seu compadre. Amigo. Cassiano Ferreira de Mendonça. Santa Rita, 17 de maio de 1863”.
Essa carta foi para a alma martirizada de Pereira, uma centelha de felicidade.
O Thabor de Pereira.
Manoel Pereira da Silva Júnior já não é o abastado fazendeiro da Pirapetinga, já não tem aquele entusiasmo de outrora. É já um homem sumido pelos revezes da vida. Está completamente arruinado e sua família jogada na miséria.
Do fausto à pobreza. Assim mesmo a perseguições dos Fortes continua.
Só uma coisa o salva: o reconhecimento a utilidade e adaptação de sua estrada pelo Governo de Minas.
E a oposição dos Fortes, senhores de posições quer na política da Província de Minas Gerais, quer na magistratura provincial quer na imperial.
Tinha que se entregar ao sacrifício da miséria e deixar seus filhos na orfandade, desdita que já sonhara Pereira.
A trama para seu extermínio está se urdindo.
A casa sede da fazenda Pirapetinga, que se debruça sobre a margem direita do rio Preto é teatro da trama.
Foto atual da fazenda Pirapetinga,( São Francisco). FHOAA 2009
Das janelas do lado do rio, avista-se a estrada que vem do Bom Jardim à vila do Rio Preto.
Numa dessas salas a que servem essas janelas, estão o proprietário da fazenda Antônio Francisco Ferraz, o Dr. Gabrielzinho e “Tira-Prosa”, quando pela estrada, desce o infortunado construtor de estradas.
Ferraz diz ao desumano “Tira-Prosa”:
_ Lá vai ele!
O doutor Gabriel acrescenta:
_Repare bem, para conhecê-lo Bem.
Manoel Joaquim, o “Tira-Prosa”,responde, num gesticular de ombros:
_Aquilo não é nada pra mim. Deixe-o passar para baixo que na volta eu acabo com ele.
De fato Pereira vinha a Vila tratar de seus negócios mal amparados.
02 de maio de 1863.
O dia amanhece cheio de sol.
É o dia consagrado ao martírio do construtor da estrada do Boqueirão da Mira, que de volta da Vila, passa em casa de seu patrício Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, sob a firma Cardoso Nogueira+ Moura, casa que fica distante da fazenda de Santa Clara, duas léguas mais ou menos.
Pereira está de regresso da Vila e com muita urgência, pois tem de seguir para Santa Rita, a fim de atender um chamado por carta de seu amigo Cassiano Ferreira de Mendonça, dando-lhe a boa nova de ter chegado a Santa Rita do Jacutinga, um engenheiro do Estado, o doutor Modesto de Faria Bello, que desejava encontrar-se com o construtor da estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.
A carta de seu amigo de Santa Rita está vazada nestes termos:
“ Senhor Manoel Pereira da Silva Júnior.
Compadre e Amigo.
Comunicou-me hoje o engenheiro que já tinha recebido ofício do Presidente autorizando-lhe a contratar a conservação da estrada do Boqueirão e que hoje ia pousar em casa de Ferraz amanhã cedo principiava a examiná-la e que logo no outro dia que vmecê lá passou recebeu o dito ofício por um preto de Santa Clara; será bom que vocemecê venha assistir e contratar. Ele falou para esse ficar e eu lhe disse que lhe preferia, e assim me pediu para lhe fazer ciente do ocorrido. Muito estimarei que fique logo bom do incômodo; eu e sua comadre, muito recomendamos a comadre e as meninas, e aqui estamos para o que lhe for prestante como quem é seu compadre. Amigo. Cassiano Ferreira de Mendonça. Santa Rita, 17 de maio de 1863”.
Essa carta foi para a alma martirizada de Pereira, uma centelha de felicidade.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Manoel Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte requerimento:
«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas Gerais.
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resultado do que dispõe a mesma lei afim de resolver como julgar de interesse publico. E porque os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,
P. a V. Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava colado um selo de $100 reis.
Teve esta petição o despacho seguinte :
«Logo que hajam Engenheiros disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comunicação : «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos seus ofícios de 17 e 19 do mes findo, que n'esta data oficiei ao Engenheiro Modesto de Faria Bello para proceder ao necessário exame e orçamento ,contrato de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a) Joaquim Fernandes Torres.
Capítulo VIII
Porfírio Escravo.
Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.
È natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedreiro. Veio para ali com 12 anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.
Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.
Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato
Contra o finado Tereziano, José Floriano, seu co-herdeiro manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Tereziano, judicialmente, do ganho de causa.
Quando o meirinho aproximava-se da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.
Foi então José Floriano à fazenda entender-se pessoalmente com Tereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Floriano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Tereziano, uma bengalada.
Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensangüentado. Foi metido no cárcere da fazenda por Porfírio, auxiliado por outros escravos.
Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.
À porta do cárcere , escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.
A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.
Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.
«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas Gerais.
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resultado do que dispõe a mesma lei afim de resolver como julgar de interesse publico. E porque os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,
P. a V. Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava colado um selo de $100 reis.
Teve esta petição o despacho seguinte :
«Logo que hajam Engenheiros disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comunicação : «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos seus ofícios de 17 e 19 do mes findo, que n'esta data oficiei ao Engenheiro Modesto de Faria Bello para proceder ao necessário exame e orçamento ,contrato de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a) Joaquim Fernandes Torres.
Capítulo VIII
Porfírio Escravo.
Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.
È natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedreiro. Veio para ali com 12 anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.
Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.
Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato
Contra o finado Tereziano, José Floriano, seu co-herdeiro manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Tereziano, judicialmente, do ganho de causa.
Quando o meirinho aproximava-se da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.
Foi então José Floriano à fazenda entender-se pessoalmente com Tereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Floriano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Tereziano, uma bengalada.
Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensangüentado. Foi metido no cárcere da fazenda por Porfírio, auxiliado por outros escravos.
Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.
À porta do cárcere , escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.
A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.
Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.
Manoel Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte requerimento:
«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas Gerais.
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resul¬tado do que dispõe a mesma lei afim de re¬solver como julgar de interesse publico. E por que os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,
P. a V. Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava colado um selo de $100 reis.
Teve esta petição o despacho seguinte :-
«Logo que hajam En¬genheiros disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comuni¬cação : «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos seus ofícios de 17 e 19 do mes findo, que n'esta data oficiei ao Engenheiro Modesto de Faria Bello para proceder ao necessário exame e orçamento ,contrato de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a) Joaquim Fernandes Torres.
Capítulo VIII
Porfírio Escravo.
Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.
È natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedreiro. Veio para ali com anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.
Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.
Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato
Contra o finado Tereziano, José Floriano, seu co-herdeiro manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Tereziano, judicialmente, do ganho de causa.
Quando o meirinho aproximava-se da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.
Foi então José Floriano à fazenda entender-se pessoalmente com Tereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Floriano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Tereziano, uma bengalada.
Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensangüentado. Foi metido no cárcere da fazenda pó Porfírio auxiliado por outros escravos.
Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.
À porta do cárcere , escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.
A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.
Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.
«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas Gerais.
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resul¬tado do que dispõe a mesma lei afim de re¬solver como julgar de interesse publico. E por que os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,
P. a V. Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava colado um selo de $100 reis.
Teve esta petição o despacho seguinte :-
«Logo que hajam En¬genheiros disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comuni¬cação : «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos seus ofícios de 17 e 19 do mes findo, que n'esta data oficiei ao Engenheiro Modesto de Faria Bello para proceder ao necessário exame e orçamento ,contrato de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a) Joaquim Fernandes Torres.
Capítulo VIII
Porfírio Escravo.
Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.
È natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedreiro. Veio para ali com anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.
Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.
Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato
Contra o finado Tereziano, José Floriano, seu co-herdeiro manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Tereziano, judicialmente, do ganho de causa.
Quando o meirinho aproximava-se da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.
Foi então José Floriano à fazenda entender-se pessoalmente com Tereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Floriano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Tereziano, uma bengalada.
Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensangüentado. Foi metido no cárcere da fazenda pó Porfírio auxiliado por outros escravos.
Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.
À porta do cárcere , escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.
A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.
Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Derrubada da ponte do Boqueirão.
Capítulo VII
A derrubada da Ponte do Boqueirão.
A derrubada da Ponte do Boqueirão.
A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos engenheiros sérios estudos devido à sua construção . É ali que seu construtor vê o motivo para que sua estrada seja reconhecida.
Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas que descem pelas serras do Bom Jardim, às tropas e aos cavaleiros.
Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira, como arruiná-lo. Dessa forma não poderia, esperar como era seu desejo, serem indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de estradas e pontes.
Seria uma estúpida agressão ao infortunado bandeirante da terra ribeirinha.
E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856, Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de Calisto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte, deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.
No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão Pirapitinga.
A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte, na sua edição de 16 de maio de 1856, publica o seguinte:
“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”
O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de 11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gazetilha”
-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite, homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão, ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali armaram uma terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tropas; arrancados os corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas sobre as quais descansam as linhas do mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, passou logo uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !
Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez, nisso ficará!”.
O “Correio Mercantil" coincidindo em dar a mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se dirige a inocente publicação, acrescentando que os moradores da vizinhança, correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si, quem seria esse perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que cometeu semelhante fato?
E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o artigo respondeu:
Segundo certo escritor quando se quiser conhecer o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode interessar.
Com efeito, se essa notícia, não for da meia noite, o atentado merece exemplar castigo, e as mais rigorosas investigações para o descobrimento de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito ; porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a polegada de grossura que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas invenções para serem decantadas pela imprensa como fingida oposição à sua estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições já está tão gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a serra deixou as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso, aplicando a doutrina do escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.
"O Imparcial".
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