terça-feira, 6 de abril de 2010

Derrubada da ponte do Boqueirão.

Capítulo VII
A derrubada da Ponte do Boqueirão.



A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos engenheiros sérios estudos devido à sua construção . É ali que seu construtor vê o motivo para que sua estrada seja reconhecida.
Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas que descem pelas serras do Bom Jardim, às tropas e aos cavaleiros.
Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira, como arruiná-lo. Dessa forma não poderia, esperar como era seu desejo, serem indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de estradas e pontes.
Seria uma estúpida agressão ao infortunado bandeirante da terra ribeirinha.
E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856, Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de Calisto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte, deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.
No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão Pirapitinga.
A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte, na sua edição de 16 de maio de 1856, publica o seguinte:
“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”
O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de 11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gazetilha”
-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite, homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão, ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali armaram uma terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tropas; arrancados os corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas sobre as quais descansam as linhas do mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, passou logo uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !
Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez, nisso ficará!”.
O “Correio Mercantil" coincidindo em dar a mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se dirige a inocente publicação, acrescentando que os moradores da vizinhança, correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si, quem seria esse perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que cometeu semelhante fato?
E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o artigo respondeu:
Segundo certo escritor quando se quiser conhecer o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode interessar.
Com efeito, se essa notícia, não for da meia noite, o atentado merece exemplar castigo, e as mais rigorosas investigações para o descobrimento de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito ; porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a polegada de grossura que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas invenções para serem decantadas pela imprensa como fingida oposição à sua estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições já está tão gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a serra deixou as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso, aplicando a doutrina do escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.
"O Imparcial".

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