Capítulo XIX
O Thabor de Pereira.
Manoel Pereira da Silva Júnior já não é o abastado fazendeiro da Pirapetinga, já não tem aquele entusiasmo de outrora. É já um homem sumido pelos revezes da vida. Está completamente arruinado e sua família jogada na miséria.
Do fausto à pobreza. Assim mesmo a perseguições dos Fortes continua.
Só uma coisa o salva: o reconhecimento a utilidade e adaptação de sua estrada pelo Governo de Minas.
E a oposição dos Fortes, senhores de posições quer na política da Província de Minas Gerais, quer na magistratura provincial quer na imperial.
Tinha que se entregar ao sacrifício da miséria e deixar seus filhos na orfandade, desdita que já sonhara Pereira.
A trama para seu extermínio está se urdindo.
A casa sede da fazenda Pirapetinga, que se debruça sobre a margem direita do rio Preto é teatro da trama.
Foto atual da fazenda Pirapetinga,( São Francisco). FHOAA 2009
Das janelas do lado do rio, avista-se a estrada que vem do Bom Jardim à vila do Rio Preto.
Numa dessas salas a que servem essas janelas, estão o proprietário da fazenda Antônio Francisco Ferraz, o Dr. Gabrielzinho e “Tira-Prosa”, quando pela estrada, desce o infortunado construtor de estradas.
Ferraz diz ao desumano “Tira-Prosa”:
_ Lá vai ele!
O doutor Gabriel acrescenta:
_Repare bem, para conhecê-lo Bem.
Manoel Joaquim, o “Tira-Prosa”,responde, num gesticular de ombros:
_Aquilo não é nada pra mim. Deixe-o passar para baixo que na volta eu acabo com ele.
De fato Pereira vinha a Vila tratar de seus negócios mal amparados.
02 de maio de 1863.
O dia amanhece cheio de sol.
É o dia consagrado ao martírio do construtor da estrada do Boqueirão da Mira, que de volta da Vila, passa em casa de seu patrício Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, sob a firma Cardoso Nogueira+ Moura, casa que fica distante da fazenda de Santa Clara, duas léguas mais ou menos.
Pereira está de regresso da Vila e com muita urgência, pois tem de seguir para Santa Rita, a fim de atender um chamado por carta de seu amigo Cassiano Ferreira de Mendonça, dando-lhe a boa nova de ter chegado a Santa Rita do Jacutinga, um engenheiro do Estado, o doutor Modesto de Faria Bello, que desejava encontrar-se com o construtor da estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.
A carta de seu amigo de Santa Rita está vazada nestes termos:
“ Senhor Manoel Pereira da Silva Júnior.
Compadre e Amigo.
Comunicou-me hoje o engenheiro que já tinha recebido ofício do Presidente autorizando-lhe a contratar a conservação da estrada do Boqueirão e que hoje ia pousar em casa de Ferraz amanhã cedo principiava a examiná-la e que logo no outro dia que vmecê lá passou recebeu o dito ofício por um preto de Santa Clara; será bom que vocemecê venha assistir e contratar. Ele falou para esse ficar e eu lhe disse que lhe preferia, e assim me pediu para lhe fazer ciente do ocorrido. Muito estimarei que fique logo bom do incômodo; eu e sua comadre, muito recomendamos a comadre e as meninas, e aqui estamos para o que lhe for prestante como quem é seu compadre. Amigo. Cassiano Ferreira de Mendonça. Santa Rita, 17 de maio de 1863”.
Essa carta foi para a alma martirizada de Pereira, uma centelha de felicidade.
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