As suas mãos são amarradas aos pés, com um cabresto que o Dr. Gabriel servia em sua mula, comprado em São João Del Rei. Um escravo traz uma corrente que é usada na fazenda para tiradeira de carro, que é amarrada no cabresto e na extremidade desta corrente é amarrada uma pedra de arroba e meia. Posto numa canoa, foi o corpo atirado no rio Preto, a dez braças da margem.
A mula preta tordilha cavalgada por Pereira é também sacrificada.
O cadáver da mula, o seu encilhamento, vestuário de Pereira, são enterrados ao pé da mata, acima da Cava Grande, onde, até a véspera, escravos da fazenda matavam um formigueiro.
O crime perpetrado pela gente da fazenda de Santa Clara é consumado em plena luz do sol, fria e barbaramente.
As águas mansas do rio Preto fecharam-se; ali seria o túmulo de Manoel Pereira da Silva Júnior.
Qual visão, numa mesma noite, aparecem a Baltazar José dos Santos, fazendeiro ao longo da estrada do Boqueirão, dois boiadeiros desconhecidos que testemunharam com horror o hediondo crime, relatando, assustados ainda, o drama da Cava Grande.
Capítulo X
Na Vila.
O antigo “Arraial de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto”, hoje se apresentando com outros aspectos devido aos melhoramentos introduzidos na Vila do Presídio pela fidalga família dos Fortes, sentindo-se assim, os reflexos do progresso.
Estamos a 20 de maio de 1863. È na Vila um dia movimentado, quebrando o ritmo costumeiro da localidade ribeirinha. É porque Candiani , a grande cantora lírica, que já é uma estrela fulgurante no costelário da arte, fulgor conquistado numa peregrinação pelos palcos europeus e sulamericanos. Na sua passagem pela Corte, os Fortes convidaram-na para cantar na Vila.
A sua estréia está marcada para a noite.
E, todos já prevêem que o prédio, não pequeno que serve para o teatro, à rua Direita, no beco do Porto, será diminuto para caber tanta gente, tal o interesse despertado lá fora com a notícia da vinda de da grande artista.
A Companhia Dramática Cabral, a quem pertence a cantora, aboletou-se no hotel de Antonio José Rodrigues Viana,( primeiro beco, quem vai do lado do rio Preto, partindo da praça central), que está com seus cômodos todos tomados.
Os galãs da Companhia Dramática Cabral, com os seus cabelos longos, empoados, roupas pelo figurino da Corte de D. João VI, espalhavam-se na espaçosa praça central da Vila, à sombra da capela de Nosso Senhor dos Passos, padroeiro da Vila, do centro do cemitério, encravado nas encostas do morro dos Beatos a cavaleiro da praça central e Rua Direita.
As moças, com suas saias balão, trocam sorrisos com os galãs.
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