Capítulo I
A estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.
Ao alvorecer do século passado, não havia caminho do vale do rio Preto que alcançasse a Zona do Campo.
Para se atingir as terras além Mantiqueira havia um só caminho: as antigas picadas feitas pelo índio Coroados que iam apanhar pinhão, naquela Zona. Da Corte para a Província de Minas há diversos caminhos, mas, o desejado, que encurtaria distâncias, deveria ser construído nesta Zona.[1]
A vila de São João Del Rei é o arauto da Província de Minas.
Dois caminhos ligam, com rotas diferentes, a Província à Corte. Um, o descoberto por Fernão Dias Paes Leme, o Governador das Esmeraldas, que a história pátria contorna-o com mágicos lauréis; o caminho que sobe a Mantiqueira, procurando Passa Quatro.
Outro, o descoberto pelos Otonis, o Caminho da Vila do Príncipe que desce o rio Paraíba do Sul até a foz do rio Paraibuna que é vadeado em seu caudal em grande distância.
O Governo da Província do Rio de Janeiro já estudara o caso e punha-o em execução, construindo para isso a Estrada Presidente Pedreira que alcançava a Freguesia de Conservatória, na mesma Província, vizinha Comarca da Vila de Valença.
No campo ia-se de Bom Jardim, por estrada de rodagem, à São João Del Rei, passando por Lavras do Funil.
Terreno acidentado, parece impossível a sonhada empresa de ligar a estrada de Presidente Pedreira, que termina em Conservatória, à Freguesia de Bom Jardim, separadas pelo mássico formidável da Serra da Mantiqueira, uma barreira que o homem julga intransponível, embora 6tendo aí as picadas dos índios, feitas em mato fechado, a enfrentar feras,a galgar montanhas, sofrendo uma sorte de sobressaltos.
Para transitar em tais picadas há de fazer-se por etapas, com coragem inaudita, esforço sobrehumano sujeito a perecerem num abismo.
[1] Os índios Coroados eram os indígenas do sertão entre os rios Preto e Paraíba do Sul. Eram assim chamados, pelo modo que cortavam os cabelos, tinham por costume cortá-los no alto da cabeça,ficando com eles, longos e escorridos,espargidos pelo ombro. Foram pouco a pouco desaparecendo, dizimados, por último, pela epidemia de varíola que grassou no vale do rio Preto em 1830.
A aldeia dos Coroados assentava-se numa das colinas que hoje se assenta a cidade de Valença. Já achavam-se errantes, em número de quinhentos ou seiscentos.
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