segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Documento comprovando a vericidade dos relatos feitos por José Marinho de Araujo, na década de 1930 pesquisado´por FHOAA em 2009/2010.




Uma multidão se acotovela na Cava Grande. A notícia correu veloz, e todos da circunvizinhança para lá se dirigem.
Prevenido como é Fonseca Moura, pede a todos que não tivessem armas de fogo e não resistissem a qualquer subtração do cadáver no rio, porque os Fortes são capazes para isso. As janelas da fazenda de Santa Clara estão fechadas. Não se vê, pelas imediações, nem um escravo da fazenda, como de costume. Todos se acham às escondidas.
É um ermo a fazenda: uma fazenda abandonada, esta que até poucos dias apresentava-se como um fervilhar de formigueiro!...
Da Vila vão a Cava Grande, Dr. Gabriel Bustamante, Juiz de Direito, Dr. Joaquim Fernandes Torres Júnior, promotor de Justiça e Francisco Antônio Duarte da Silveira, 1º Suplente do subdelegado de polícia, em exercício, acompanhado de muita gente.
Iam todos para a Cava Grande, quando causando estranheza aos circunstantes, o Promotor de Justiça aconselha ao Dr. Ga brielzinho que se escondesse na fazenda, pois, podia ser alvo de alguma agressão pela parte daquela massa de povo que ali se acha.
Dai a pouco, chegam a Cava Grande “Tira prosa” e os escravos Desiderio e Chico Gomes, aparentando surpresa, a fim de desorientar o que já se firmou em relação aos verdadeiros matadores de Pereira.
Estes puseram a canoa no rio e retiraram o corpo do assassinado, na presença do primeiro suplente do subdelegado, em exercício, Francisco Antônio Duarte da Silveira, escrivão de polícia, Francisco Prudêncio Pinto, e dos peritos intimados, farmacêutico Mariano Pereira da Silva Gomes e o advogado José Eleutério dos Santos, que fizeram o auto do corpo de delito, assistido pelo Promotor de Justiça.
O relatório dado pelos peritos é o seguinte:
“Que chegando ao lugar designado na porteira e sendo ai na porteira denominada Cava Grande nos pastos da fazenda de Santa Clara, encontraram aquém, junto a mesma porteira alguns salpicos de sangue em um caco de telha, e em algumas folhas e ramos que pareciam ter havido nesse lugar algum conflito.
E, nada mais puderam pesquisar por se achar esse lugar aterrado recentemente e o mato de um e outro lado também roçado de pouco.
Continuando os peritos o exame além da porteira, encontraram a distância de dez praças mais ou menos, no barranco que da mesma estrada desce para o rio Preto, sinais de ter sido por ali arrastado algum corpo pesado, e seguindo estes rastros foram encontrando sangue pelas relvas, e alguns poços de sangue coagulado em diversos lugares pelo barranco abaixo até a beira do rio Preto, chegando ali, avistaram um cadáver dentro do rio, a distância de dez palmos, mais ou menos, que lhes parecia estar de pé e de cor branca. Declararam mais que, o lugar em que se achava esse cadáver dentro do rio, tinha sete e meio palmos, mais ou menos, de profundidade, pelo exame que procederam; declararam ainda que tirado esse cadáver para dentro de uma canoa, reconheceram estar nu e ser de cor branca, achava-se atado pela cintura com uma corrente de ferro grossa, tendo a mesma corrente nas pontas amarrada uma pedra que calculavam pesar arroba e meia, mais ou menos.
Declararam mais que os pés do mesmo cadáver se achavam atados por um cabresto, tendo este cabeçada de sola e láctico de couro cru que igualmente estavam uma pedra de dezesseis a vinte libras mais ou menos.
Declararam mais que observaram os punhos de ambos os braços uma grande depressão que mostrava também terem sido amarrados junto a corrente atada à cintura; declararam mais que tirado o cadáver da canoa, para a margem do rio, reconheceram ser homem de estatura ordinária, grosso, e que trazia os cabelos da cabeça aparados e neles se observavam alguns cabelos brancos e pelo resto das suíças, onde havia maior quantidade de cabelos brancos, e pelo que já ficou dito lhes pareceu ser o cadáver de Manoel da Silva Pereira Júnior.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Crime da Cava Grande - José Marinho de Araújo

Ninguém, pela estrada, sabia do paradeiro de Pereira. Afinal Manoel Teixeira encontra pelas proximidades de Santa Clara, com Antônio Raimundo e incontinente pergunta-lhe pelo malogrado bandeirante da terra ribeirinha.
Antônio Raimundo que é a única testemunha de vista, diz que não sabe, com receio, talvez, de cair sobre si o furor “fortista”, ainda mais que sua família, deve favores aos Fortes, vivendo até em suas terras.
Desconfiado, fugindo das testemunhas, olhando para os lados, põe a mão em forma de leque no rosto, e diz ao ouvido de Teixeira:
_Procure no rio Preto, na Cava Grande, que ele está lá.
Teixeira volta à Barra Mansa, cheio de terror, trazendo a notícia a seu patrão. A casa do Moura, tornou-se um quartel; tramava-se ali a forma de descobrir o assassinato, mas como? Se fossem à Santa Clara, seriam mortos, com certeza.
Uma noite foi passada em claro por toda aquela gente, sem que resolvesse ou descobrisse uma medida a tomar.
No dia seguinte, 25, Joaquim Francisco de Oliveira, um português comerciante em Santa Rita do Jacutinga, que vem à Vila tratar de seus negócios, avista ao passar pela Cava Grande o cadáver de Pereira, em pé, no meio do rio, com as mãos levantadas para o ar, desafiando os criminosos e o s denunciando à Justiça Divina. Foi assim verificado o crime dos Fortes que até o momento se encerrava num véu de suspeitas e conjeturas.
Como Joaquim Francisco de Oliveira vem à Vila, Fonseca Moura dá-lhe uma carta para pessoa da Vila, pedindo que levasse o fato ao conhecimento do Juiz de Direito, Promotor de Justiça e Delegado de Polícia para enviarem providências que o caso exige.
José Pereira, irmão da vítima, chega à casa de Fonseca Moura, entre soluços, querendo vingar-se da morte do irmão, mas como?
Uma multidão se acotovela na Cava Grande. A notícia correu veloz, e todos da circunvizinhança para lá se dirigem.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo XIII


Descoberto



Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, à margem do rio Preto, está inquieto, pois espera Pereira desde o dia 21e já estamos no 23 e este ainda não regressara.
Volta de Santa Rita, Francisco de Paula Dias Moreira, administrador da fazenda da Marquesa de Valença, trazendo a notícia de que Pereira não chegara a Santa Rita, procurando-o em casa de um parente, Francisco Carneiro, onde sempre se hospedava e, na volta, soube por seu irmão que ele não estivera em sua casa e nem subira para o Boqueirão.
Dias Moreira traz consigo uma outra carta do engenheiro Belo para Manoel Pereira.
Quem sabe se a vindita dos Fortes realiza-se conjectura Fonseca Moura, em sua casa comercial, comentando o desaparecimento de Pereira, ao grande número de fregueses que se acotovela ao balcão.
Todos apoiam o que disse Fonseca Moura fazendo em torno do desaparecimento de Pereira os mais horrorosos comentários, desenhando quadros terríveis dados aos preparativos e ameaças feitas pela gente da fazenda Santa Clara, senhora do vale do rio Preto.
Com razão, pois Dias Moreira notou, pela sua passagem na passagem da Cava Grande, o roçado e aterrado recentes e no mato abaixo alguns salpicos de sangue.
Combinou-se, antes, procurar Pereira e avisar a seu irmão, saindo muitas pessoas suas amigas, para diversos lados, também Manoel Teixeira Machado, caixeiro de Moura. Isso agora em 24 de maio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os maltratos diminuem e seus algozes mudam de ação.
Querem convencer a Carapina que se esqueça da morte de Pereira, prometendo até compra-lo e livrá-lo, se fizesse o que eles mandassem.
Foi nessa ocasião conduzido para o engenho e lá esteve oculto por duas noites, saindo depois com João Ilheo, o administrador de Santa Clara e João Barbado mais dois escravos trazidos de Santa Clara para Pirapetinga para o serviço já planejado. É que Alexandre de tal e Antônio Ferreira de Mendonça levaram o o fato ao conhecimento de Dr. Gabrielzinho e este lhes entregou algum dinheiro.
Quando amanheceu, Carapina sai do engenho com um lenço atado à boca, acompanhado por toda essa gente, com destino à fazenda dos Dutra (terras de D. Eleuteria) sendo assassinado friamente, a pauladas, e como não acabou de morrer com as pauladas, deram-lhe uma facada .
A cova de Carapina está ao lado da serra no caminho de Santa Isabel, no pé de uma bananeira, num canavial de terras de D. Eleuteria.
Os paus que o mataram estão em cima da cova onde foi enterrado assim também a carapuça que usava. Logo após o seu enterramento uma escrava velha que tudo assistira, ajoelha sobre a sepultura e faz preces pelo infeliz Manoel Carapina.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fazenda de Pirapetinga, hoje, São Francisco.

Capítulo XII.


Na Fazenda Pirapetinga.



Pirapetinga, o antigo solar de Pereira, se ergue altaneira na barranca do rio Preto.
Foi ali que o malogrado bandeirante, da terra ribeirinha fez a sua fortuna e foi ali que se concebeu a trama para o seu martírio e desdita de sua família.
A docilidade de um lar que ali se formou, soprado pela for-tuna adquirida por um trabalho honesto e duradouro, foi destru-ída. Será que, existe entre aquelas paredes, o mesmo sossego de outros tempos? Não! Os seus habitantes são outros e ali fez do-mínio, a inquietação. A fazenda é cercada de uma vigilância enorme.
Vamos ver o que ali se passa.
Os bastidores têm os seus mistérios, têm os seus horrores. Às vezes cambiantes poéticas, às vezes páginas manchadas de sangue.
Faz-se na fazenda, a batida de feijão nos dias que agora de-correm. Há aglomeração de escravos em volta da grande quanti-dade de feijão em vagem, estendida pelo chão, munidos de compridas varas, surrando o feijão para o desgarramento do in-vólucro.
Entre os escravos, estão Manoel Carapina ex-escravo de Pereira, quando proprietário da fazenda Pirapetinga, e sua mulher, a escrava Josefa.
Entre os dois houve uma discussão, e Carapina espanca Jo-sefa, com a vara, com tanta infelicidade que esta fica prostrada no chão, vindo a falecer pouco depois, devido às pancadas recebidas.
O preto escravo é por isso preso num tronco de campanha, na mesma fazenda.
A justiça nas fazendas é geralmente, distribuída pelos seus proprietários ou pelos seus auxiliares.
Nessa emergência, João Francisco de Azevedo, administra-dor de Santa Clara, que aí se achava, começa a maltratar o preto escravo, pelo crime de uxoricídio. E, este entre maltratos a ele in-fringidos, clama:
_Porque eu sou tão maltratado assim por um criminoso também! Si matar Pereira, meu senhor, não é crime, matar Josefa, também não o é. Se continuarem, fujo daqui e vou denunciar à Justiça, os matadores do meu senhor Pereira. Sei bem quem o matou, onde, como e quando.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Calixto insiste para retirar-se de Santa Clara, mas o Dr. Gabrielzinho não consente: quer ver primeiro o local do crime. E, para lá se dirigem.
Até o dia 18, antevéspera do crime, trabalharam próximo a Cava Grande, alguns escravos, no serviço de matar formigas. Por precaução, foram retirados pelo administrador João Francisco de Azevedo, o João Ilhéo. Há, ali, um capoeirão que não é abatido a machado ou a foice, há vinte anos, mais ou menos. O Dr. Gabrielzinho ordena ao administrador que faça ali uma limpeza, o que cumpriu João Ilhéo, chamando Jacob, feitor das derrubadas, e Estevão, capataz de tropa, determinando-lhes que no dia seguinte, domingo, de manhã, fossem com oito derrubadores e seis tropeiros roçar o mato do lugar do crime e entupir o tijuco do pé da porteira, encobrindo, assim, os vestígios do crime. Esse serviço é feito na manhã de domingo, contra os costumes da fazenda, que não permite trabalhos aos domingos, serviço que é terminado às nove horas da manhã.
Viam-se ainda pela porteira alguns salpicos de sangue, coisa que é notada por Antônio Jose de Novais, que vem de Santa Rita para a Vila, julgando ter-se ali sangrado algum animal.
Uma preocupação que salta a cabeça de João Ilheo, é a presença das correntes na fazenda, correntes iguais à que está amarrada em Pereira, no fundo do rio. É um indício seguro para investigações policiais, e por isso mandou que se escondessem todas, retirando as que estavam em serviço e ordenou o fabrico de novas tiradeiras de madeira, como também cangas novas e arreios de couro cru.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Capítulo XI .Crime da Cava Grande José Marinho de Araújo.

Capítulo XI

Na Fazenda Santa Clara.

Logo após ao martírio de Pereira, Calixto é visto na fazenda, com camisa e calça de pano azul, molhado da cintura para baixo,chegando com uma espingarda na mão.
Um velho escravo, o Tiago de Nação Cabinda, pergunta-lhe o que estava fazendo e Calisto responde:
_Atirei uma capivara na volta do rio, na lavra do João Brumado.
Dessa hora em diante, cria-se uma vigilância permanente pelos arredores da fazenda feita por sua gente.
Todos que passam pela estrada são reconhecidos pelos seus habitantes que se acham às escondidas.
O Dr. Gabrielzinho, logo que o espetáculo da Companhia Dramática Cabral terminara, ordenou a Calixto e Tira Prosa, que incontinente, regressassem à fazenda, prometendo faria o mesmo no dia imediato, o que cumpriu, chegando à fazenda antes do amanhecer.
Pintar aqui a luta que se travou no íntimo do Dr. Gabrielzinho, será cousa impossível, considerando a fraqueza das tintas com que o autor dispõe em sua palheta e a ineficiência de seu pincel.
É uma dessas lutas terríveis que assaltam o cérebro. É a consciência com voz mais forte, mais autoritária, transforma a alma num báratro. E o Dr. Gabrielzinho tinha momentos de revolta, mas, acusar a quem?
Ele próprio contribuíra para lançar Pereira no túmulo das águas do rio Preto. Não! Os seus cúmplices exorbitaram as suas funções. Mas, que fazer a sua condição de mandante desse crime, monstruoso, não se alterava. Denunciar? Quem? A quem? E a sua condição de Juiz de Direito? Confiava na discrição das águas mansas do rio Preto.
Na tarde desse dia foi, com Tira Prosa, dar um sal no gado, na fazenda dos Batistas.
No terceiro dia, depois do almoço, saiu com o mesmo e João Ilhéu, administrador da fazenda, em direção a Santa Rita, passando pela casa de Antonio Ferraz a fazenda Pirapetinga, mas voltou antes de chegar a Santa Rita.
Francisco Dineli e dois outros, seus companheiros, de nomes Francisco e Ludgero, artistas que faziam parte da Companhia Dramática Cabral, tornaram-se, antes do crime, amigos inseparáveis de Calixto e Tira Prosa, e, logo após o crime, vem à fazenda conversar com Dr. Gabrielzinho e daí desaparecem, sem mesmo voltar a Vila, deixando de acertar com Candiane com quem se contrataram.
Estes como Tira Prosa andavam sem vintém e logo após o assassinato, exibiam suas carteiras cheias, com notas de cem mil réis.
Cúmplices ou autores da morte de Pereira que fugiram à responsabilidade, com certeza. (Nos autos do Processo, nada consta a respeito). Tira Prosa retirou-se da fazenda antes do crime, com pretexto de ir à Corte, mas tomou rumo a Santa Rita e voltou com Calixto.
Ambos, durante os oito dias que antecederam ao crime, não dormiam durante a noite, saindo e voltando à fazenda, com pretexto de correrem os boiadeiros, que, de vez em quando, dormiam nos pastos da fazenda.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

À fraqueza da luz ambiente, cá fora, quase não se pode reconhecer quem chega. Mas, quem sobe uma pequena escada, de poucos degraus, ali existente, e olha para o interior do prédio, aprecia outro aspecto. Está iluminada com a luz a gás. Distingue-se à porta principal do prédio, o Dr. Gabrielzinho, muito gentil, convidando a seus amigos a subir.
Não falta pessoa alguma de importância dessas paragens neste anunciado espetáculo.
Havia, ali, portadores de títulos nobiliárquicos, cujos nomes já citamos em tópicos anteriores, os elementos representativos da Vila, o Juiz de Direito - Dr. Gabrielzinho- o Promotor de Justiça, Dr. José Joaquim Fernandes Torres Junior, o Delegado de Polícia, Manoel José Espínola, o Vigário da Freguesia, Padre Martiniano Teixeira Guedes.
Um observador político se ali estivesse, pondo as suas qualidades em ação, consignar-se-ia logo, em sua crônica, a ausência completa do elemento liberal da Vila.
Havia ali somente partidários do Conservador.
À luz da gambiarra , Candiani canta,levando o seu auditório seleto e exigente às paragens da Arte, do sonho...
Alguns dos espectadores chegam a se levantar, tal o efeito causado pela voz de Candiani.
Os aplausos chovem. Outros artistas apresentam os seus trabalhos
Ao término do espetáculo, Candiani aparece para agradecer aos aplausos, quando o Dr. Gabrielzinho e Comendador Carlos Teodoro de Souza Fortes dirigem-se ao palco e jogam flores sobre a cabeça da consagrada artista.
Uma salva de palmas acompanhada de contentamentos, confessando que a Vila jamais tivera momento como esse.
Saem todos.
Dois vultos na semi-escuridão da rua abordam Dr. Gabrielzinho. São “Tira-Prosa” e Calixto, que de volta da Cava Grande, vêm dar conta do serviço feito- a morte de Pereira

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Candiani em Rio Preto ( cont...).

Na parte comercial há aglomeração. Não gente que vai ao teatro ouvir Candiani. É o grande número de curiosos na vontade de conhecer a pompa com que os Fortes revestem a permanência da artista na terra onde se fizeram.
Anoitece.
Os lampiões da extensa Rua Direita. Do largo do Porto e da Praça Central, com seus focos quase que pálidos quebram a escuridão ponto a ponto, lançando na continuidade de seu curso uma cambiante desoladora.
Todos movem em direção ao prédio da Rua Direita, Beco do Porto, para assim ouvir Candiani.
É um prédio assobradado, com o rez–do-chão calçado com lajes enormes de pedra, com uma escada granítica que dá acesso ao sobrado.

Augusta Candiani

http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/1980410:BlogPost:50300

terça-feira, 20 de abril de 2010

Candiani em Rio Preto

Da alfaiataria de Anselmo da Cunha Pinto Magalhães, os rapazes da Vila saem com embrulhos, contendo fatiota nova que será exibida no grande dia de hoje.
No rio Preto o movimento de barcos é importante.
A ponte do caminho da Corte, no largo do Porto, está cheia de curiosos, assistindo o movimento da chegada dos barcos que descem das fazendas margeantes do rio.
Dr. Gabriel Ploisquellecc Fortes de Bustamante, Juiz de Direito da Comarca, es-palhou convites a todas as pessoas de destaque da redondeza.
Vários esperam quem chega a Vila
Da janela do hotel, de quase todas as casas, pessoas ansiosas, aguardavam a chegada dos convidados.
Uma liteira desce a rua que margeia a rio em direção a fazenda Santa Clara.
É a Viscondessa que chega. Escravos carregam a liteira. Mucamas, a cavalo guardam o veículo conduz dona Maria Teresa de Souza Fortes, viscondessa de Monte Verde, viúva do Comendador Thereziano, barão de Monte Verde, senhora da fazenda Santa Clara.
Pela ponte, entra na Vila, o desembargador aposentado do então tribunal do Distrito na Corte, doutor Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Comendador da ordem de Cristo e Cavaleiro da Casa Imperial. É senhor da Fazenda de São Paulo, entre pajens.
Chega Carlos Teodoro de Souza Fortes, comendador da Ordem da Rosa, senhor da fazenda São Fernando.
A marquesa de Valença vem de sua fazenda- São Luiz- em aparatoso barco que atraca no largo do Porto.
O largo do Porto é o local mais movimentado da Vila.
Aí tem a guarda-moria e a maior parte das casas comerciais.
Até pouco tempo era chamado o largo do Cruzeiro, por ter aí um Cruzeiro fincado por ocasião que o Visconde Athayde, governador das Minas, mandou abrir esse sertão à mineração.
Rio Preto está entregue às festanças pomposas, pois a estadia da cantora em seu meio é grande acontecimento.
As ruas cheia de povo; misturam-se fidalgos, a plebe e os escravos; a indumentária é a mais variada possível.
Ao crepúsculo a praça central da Vila, contra os seus costumes, está movimentada.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Crime da Cava Grande: Assassinato de Manoel Pereira 20 de maio de 1863.

As suas mãos são amarradas aos pés, com um cabresto que o Dr. Gabriel servia em sua mula, comprado em São João Del Rei. Um escravo traz uma corrente que é usada na fazenda para tiradeira de carro, que é amarrada no cabresto e na extremidade desta corrente é amarrada uma pedra de arroba e meia. Posto numa canoa, foi o corpo atirado no rio Preto, a dez braças da margem.
A mula preta tordilha cavalgada por Pereira é também sacrificada.
O cadáver da mula, o seu encilhamento, vestuário de Pereira, são enterrados ao pé da mata, acima da Cava Grande, onde, até a véspera, escravos da fazenda matavam um formigueiro.


O crime perpetrado pela gente da fazenda de Santa Clara é consumado em plena luz do sol, fria e barbaramente.
As águas mansas do rio Preto fecharam-se; ali seria o túmulo de Manoel Pereira da Silva Júnior.
Qual visão, numa mesma noite, aparecem a Baltazar José dos Santos, fazendeiro ao longo da estrada do Boqueirão, dois boiadeiros desconhecidos que testemunharam com horror o hediondo crime, relatando, assustados ainda, o drama da Cava Grande.











Capítulo X


Na Vila.


O antigo “Arraial de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto”, hoje se apresentando com outros aspectos devido aos melhoramentos introduzidos na Vila do Presídio pela fidalga família dos Fortes, sentindo-se assim, os reflexos do progresso.
Estamos a 20 de maio de 1863. È na Vila um dia movimentado, quebrando o ritmo costumeiro da localidade ribeirinha. É porque Candiani , a grande cantora lírica, que já é uma estrela fulgurante no costelário da arte, fulgor conquistado numa peregrinação pelos palcos europeus e sulamericanos. Na sua passagem pela Corte, os Fortes convidaram-na para cantar na Vila.
A sua estréia está marcada para a noite.
E, todos já prevêem que o prédio, não pequeno que serve para o teatro, à rua Direita, no beco do Porto, será diminuto para caber tanta gente, tal o interesse despertado lá fora com a notícia da vinda de da grande artista.
A Companhia Dramática Cabral, a quem pertence a cantora, aboletou-se no hotel de Antonio José Rodrigues Viana,( primeiro beco, quem vai do lado do rio Preto, partindo da praça central), que está com seus cômodos todos tomados.
Os galãs da Companhia Dramática Cabral, com os seus cabelos longos, empoados, roupas pelo figurino da Corte de D. João VI, espalhavam-se na espaçosa praça central da Vila, à sombra da capela de Nosso Senhor dos Passos, padroeiro da Vila, do centro do cemitério, encravado nas encostas do morro dos Beatos a cavaleiro da praça central e Rua Direita.
As moças, com suas saias balão, trocam sorrisos com os galãs.





terça-feira, 13 de abril de 2010

Pai de doutor Gabriel

Casa do irmão José Pereira, local pretendido para pernoitar. Ainda existe hoje .Foto: FHOAA 2009



Assassinato de Manoel da Silva Pereira Júnior.

Não obstante a apresentação dessa carta a seu amigo Moura, este insiste com Pereira, que permaneça em sua casa até o dia seguinte, pois era mais de meio dia e não chegaria ainda com sol em Santa Rita, arriscando-se a viajar sozinho pelas terras dos Fortes, advertindo-lhe que a gente da Baronesa é capaz de fazer-lhe algum mal.
Expôs-lhe que no dia seguinte seria acompanhado de Francisco de Paula Dias Moreira, que agora é administrador da Fazenda de São Luiz, da viscondessa de Valença, que seguia para Santa Rita.
Se o faz porque sabe que os Fortes estão desesperados por ter Pereira ganho a questão da estrada e já espera um desfecho menos agradável; dá-lhe a notícia de que é Juiz de Direito de Rio Preto, desde o dia 10 de maio corrente, o Doutor Gabriel Ploesquelecc Fortes de Bustamante.
Pereira não aceita o convite alegando que tem que pernoitar em casa de seu irmão José Pereira, que mora em uma casa sita defronte a casa de Fernando Ferraz, a fazenda de São Mathias, do lado de Minas, para chegar mais cedo à Santa Rita.
Às duas horas, mais ou menos, Pereira despede-se de seu amigo Joaquim da Fonseca Moura e precisamente às três e meia entra nos domínios da fazenda de Santa Clara.
Veste neste mesmo dia, calça de casimira clara, colete do mesmo pano, sobre-casaca e chapéu preto e com seu chapéu de sol roxo, cobrindo ao sol. Cavalga u’a mula preta tordilha.
Aproxima-se da sede da fazenda Santa Clara.
Ao passar pela frente da casa da fazenda, a um sinal convencionado, Calixto, que já está de espera, sai e o acompanha armado de uma espingarda e, um estoque dentro de um velho e amontado em uma besta preta, pertencente à “Tira-Prosa”, puxando um cavalo baio de cauda preta.
“Tira-Prosa”, aos saltos, enche seu revolver de balas, e pega numa faca comprida, de ponta, com cabo, bocal e ponteiro de prata, e salta em cima do lombo de u’a mula pelo rabo, pertencente ao doutor Gabrielzinho.
Eles já tinham prevenido estes animais para se servirem no momento oportu-no.
Enquanto isso, Pereira, ao marchar de seu animal, afasta-se da casa da fazenda.
A Cava Grande, lugar onde tem uma porteira, era, até pouco tempo, a divisa da fazenda de Santa Clara e Santa Tereza. É um corte onde passa a estrada que margeia rio acima, até a barra do Pirapetinga, e daí, em busca da freguesia de Bom Jardim, traçado que já conhecemos.
Pereira força a porteira com o cabo do guarda-chuva. Não cede. Está amarrada com um cipó ao batente.
Tira, Pereira, o pé do estribo a fim de apear para desembaraçar a porteira.
Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.
Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estirando-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, pelas cos-tas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.
Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estirando-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Aí começa o suplício do malogrado construtor de estradas, que dura meia hora. Vão lhe furando os olhos, cortando as orelhas, os lábios e o nariz.
Para tornarem-se despercebidos os gritos de Pereira, um escravo da fazenda, canta em voz alta. Antonio Joaquim de Oliveira, vulgo Antonio Raimundo, que mora em São Pedro do Taguá, à margem do rio Preto, dirigia-se a uma casada colônia da fazenda Santa Tereza, de dona Eleutéria, surpreende-se com aquele quadro.
Horrorizado escondeu-se na mata, a cavaleiro da Cava Grande. Entre os assassinos reconhece o escravo Porfírio.
Pereira, entre extorsões de dores, já agonizante, liga, quase que impercepti-velmente, estas palavras:
_Matem-me, mas não judiem de mim.
Uma faca entra nervosamente em cena. A sua língua é cortada, os seus dentes são quebrados.
“Tira-Prosa” sangra com o punhal o inditoso Manoel Pereira que dá o último suspiro.
O seu cadáver está completamente nu e com aspecto horrível.
Uma só ferida !

sábado, 10 de abril de 2010

Carta publicada por José Marinho de Araújo em seu jornal."O Município"





Capítulo XIX

Capítulo XIX


O Thabor de Pereira.



Manoel Pereira da Silva Júnior já não é o abastado fazendeiro da Pirapetinga, já não tem aquele entusiasmo de outrora. É já um homem sumido pelos revezes da vida. Está completamente arruinado e sua família jogada na miséria.
Do fausto à pobreza. Assim mesmo a perseguições dos Fortes continua.
Só uma coisa o salva: o reconhecimento a utilidade e adaptação de sua estrada pelo Governo de Minas.
E a oposição dos Fortes, senhores de posições quer na política da Província de Minas Gerais, quer na magistratura provincial quer na imperial.
Tinha que se entregar ao sacrifício da miséria e deixar seus filhos na orfandade, desdita que já sonhara Pereira.
A trama para seu extermínio está se urdindo.
A casa sede da fazenda Pirapetinga, que se debruça sobre a margem direita do rio Preto é teatro da trama.

Foto atual da fazenda Pirapetinga,( São Francisco). FHOAA 2009


Das janelas do lado do rio, avista-se a estrada que vem do Bom Jardim à vila do Rio Preto.
Numa dessas salas a que servem essas janelas, estão o proprietário da fazenda Antônio Francisco Ferraz, o Dr. Gabrielzinho e “Tira-Prosa”, quando pela estrada, desce o infortunado construtor de estradas.
Ferraz diz ao desumano “Tira-Prosa”:
_ Lá vai ele!
O doutor Gabriel acrescenta:
_Repare bem, para conhecê-lo Bem.
Manoel Joaquim, o “Tira-Prosa”,responde, num gesticular de ombros:
_Aquilo não é nada pra mim. Deixe-o passar para baixo que na volta eu acabo com ele.
De fato Pereira vinha a Vila tratar de seus negócios mal amparados.
02 de maio de 1863.
O dia amanhece cheio de sol.
É o dia consagrado ao martírio do construtor da estrada do Boqueirão da Mira, que de volta da Vila, passa em casa de seu patrício Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, sob a firma Cardoso Nogueira+ Moura, casa que fica distante da fazenda de Santa Clara, duas léguas mais ou menos.
Pereira está de regresso da Vila e com muita urgência, pois tem de seguir para Santa Rita, a fim de atender um chamado por carta de seu amigo Cassiano Ferreira de Mendonça, dando-lhe a boa nova de ter chegado a Santa Rita do Jacutinga, um engenheiro do Estado, o doutor Modesto de Faria Bello, que desejava encontrar-se com o construtor da estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.
A carta de seu amigo de Santa Rita está vazada nestes termos:
“ Senhor Manoel Pereira da Silva Júnior.
Compadre e Amigo.
Comunicou-me hoje o engenheiro que já tinha recebido ofício do Presidente autorizando-lhe a contratar a conservação da estrada do Boqueirão e que hoje ia pousar em casa de Ferraz amanhã cedo principiava a examiná-la e que logo no outro dia que vmecê lá passou recebeu o dito ofício por um preto de Santa Clara; será bom que vocemecê venha assistir e contratar. Ele falou para esse ficar e eu lhe disse que lhe preferia, e assim me pediu para lhe fazer ciente do ocorrido. Muito estimarei que fique logo bom do incômodo; eu e sua comadre, muito recomendamos a comadre e as meninas, e aqui estamos para o que lhe for prestante como quem é seu compadre. Amigo. Cassiano Ferreira de Mendonça. Santa Rita, 17 de maio de 1863”.







Essa carta foi para a alma martirizada de Pereira, uma centelha de felicidade.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Manoel Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte requerimento:

«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas Gerais.
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resultado do que dispõe a mesma lei afim de resolver como julgar de interesse publico. E porque os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,
P. a V. Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava colado um selo de $100 reis.
Teve esta petição o despacho seguinte :
«Logo que hajam Engenheiros disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comunicação : «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos seus ofícios de 17 e 19 do mes findo, que n'esta data oficiei ao Engenheiro Modesto de Faria Bello para proceder ao necessário exame e orçamento ,contrato de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a) Joaquim Fernandes Torres.

Capítulo VIII


Porfírio Escravo.


Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.
È natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedreiro. Veio para ali com 12 anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.
Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.
Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato
Contra o finado Tereziano, José Floriano, seu co-herdeiro manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Tereziano, judicialmente, do ganho de causa.
Quando o meirinho aproximava-se da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.
Foi então José Floriano à fazenda entender-se pessoalmente com Tereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Floriano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Tereziano, uma bengalada.
Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensangüentado. Foi metido no cárcere da fazenda por Porfírio, auxiliado por outros escravos.
Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.
À porta do cárcere , escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.
A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.
Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.
Manoel Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte requerimento:

«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas Gerais.
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resul¬tado do que dispõe a mesma lei afim de re¬solver como julgar de interesse publico. E por que os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,
P. a V. Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava colado um selo de $100 reis.
Teve esta petição o despacho seguinte :-
«Logo que hajam En¬genheiros disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comuni¬cação : «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos seus ofícios de 17 e 19 do mes findo, que n'esta data oficiei ao Engenheiro Modesto de Faria Bello para proceder ao necessário exame e orçamento ,contrato de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a) Joaquim Fernandes Torres.

Capítulo VIII


Porfírio Escravo.


Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.
È natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedreiro. Veio para ali com anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.
Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.
Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato
Contra o finado Tereziano, José Floriano, seu co-herdeiro manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Tereziano, judicialmente, do ganho de causa.
Quando o meirinho aproximava-se da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.
Foi então José Floriano à fazenda entender-se pessoalmente com Tereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Floriano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Tereziano, uma bengalada.
Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensangüentado. Foi metido no cárcere da fazenda pó Porfírio auxiliado por outros escravos.
Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.
À porta do cárcere , escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.
A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.
Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Derrubada da ponte do Boqueirão.

Capítulo VII
A derrubada da Ponte do Boqueirão.



A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos engenheiros sérios estudos devido à sua construção . É ali que seu construtor vê o motivo para que sua estrada seja reconhecida.
Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas que descem pelas serras do Bom Jardim, às tropas e aos cavaleiros.
Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira, como arruiná-lo. Dessa forma não poderia, esperar como era seu desejo, serem indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de estradas e pontes.
Seria uma estúpida agressão ao infortunado bandeirante da terra ribeirinha.
E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856, Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de Calisto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte, deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.
No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão Pirapitinga.
A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte, na sua edição de 16 de maio de 1856, publica o seguinte:
“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”
O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de 11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gazetilha”
-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite, homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão, ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali armaram uma terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tropas; arrancados os corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas sobre as quais descansam as linhas do mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, passou logo uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !
Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez, nisso ficará!”.
O “Correio Mercantil" coincidindo em dar a mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se dirige a inocente publicação, acrescentando que os moradores da vizinhança, correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si, quem seria esse perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que cometeu semelhante fato?
E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o artigo respondeu:
Segundo certo escritor quando se quiser conhecer o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode interessar.
Com efeito, se essa notícia, não for da meia noite, o atentado merece exemplar castigo, e as mais rigorosas investigações para o descobrimento de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito ; porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a polegada de grossura que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas invenções para serem decantadas pela imprensa como fingida oposição à sua estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições já está tão gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a serra deixou as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso, aplicando a doutrina do escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.
"O Imparcial".

terça-feira, 23 de março de 2010

Algozes.

Capítulo VI
Algozes.

Aparecem nesta zona, alarmando a Vila do Rio Preto, as freguesias de Santa Rita de Jacutinga, Santa Isabel do Rio Preto e São Joaquim da Barra Mansa, cujas populações são pacatas e ordeiras dois indivíduos que se intitulam valentões.
O primeiro deles, o mais perigoso, chamava-se Quintino de Lima Sampaio, nasceu em 1827, na localidade fluminense de Angra dos Reis, e diz-se natural de Campinas, na Província de São Paulo.
Chegou aqui como feitor da fazenda de Pirapetinga, por recomendação do dr. Gabriel, e agora este o tem sempre a seu lado.
Seus antecedentes são péssimos.
Achando-se preso por crime de resistência no Quartel do 1º Regimento da Ca-valaria Ligeira da Corte, onde era ferrador, evadiu-se a 09 de Abril de 1859.
A fim de lograr a polícia, assina Manoel Joaquim da Silva.
Devido à sua arrogância de valentão, é conhecido nesses meios por “Tira-Prosa”.
É uma dessas almas criadas para o crime
Homem de maneiras rudes, grosseiros e descabidas, desagrada a toda gente, tratando os demais com aspereza.
Foi contratado, antes de aparecerem nas fazendas do vale do rio Preto, pelo tenente Vicente Lopes, fazendeiro na Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, para vingar de inimigos de sua pessoa.
Estão no número de seus inimigos, o seu próprio irmão Antônio Lopes e João Baptista dos Santos, o sapateiro da freguesia, que quase foi morto no terreiro da fazenda de Vicente Lopes, por “Tira-Prova” e quarenta escravos, fato este que é ainda muito comentado em Santa Isabel.
Fernando Ferraz e seu irmão Antônio Ferraz moravam na fazenda “Dois Irmãos” (fazenda de São Mathias), uma légua mais ou menos de distância da fazenda Pirapetinga.
Fernando Ferraz e Antônio Ferraz, dois portugueses que deixaram as suas vinhas na quinta província do Minho, vieram tentar fortuna no Brasil, fundando num dos ângulos do vale do rio Preto, a família Ferraz, hoje portadora de tantos títulos, pelos homens que descenderam desses troncos.
Antônio Ferraz veio para o Brasil ainda criança,Fernando Ferraz ,(irmão de Antônio Ignácio Ferraz), nasceu em 23/06/1829, casado com Marcolina Cândida Fortes.Era filho legítimo de Victorino Antônio Ferraz d’ Araujo e Mathildes Ignacia Francisca do Espírito Santo, com 36 anos, casado, fazendeiro, natural da Villa de Valença de Minho, Portugal.
Abaixo da fazenda de São Mathias,ergue-se a sede da fazenda de Pirapetinga, vendida por Manoel Pereira a Antônio Ignácio Ferraz.
Antônio Ignacio Ferraz é de origem portuguesa casado comCarolina Xavier Fortes uma das filhas de Dona Eleutheria Claudina Fortes,irmã do Barão de Monte Verde.
Naturais da vila de Valença do Minho, em Portugal. Fernando, irmão de Antônio, acompanhou-o ao Brasil, com o mesmo intuito: o de ganhar a vida em plagas brasileiras, tão irmãs daquelas que se estendem além do Atlântico.
Esses dois irmãos, depois de longos anos de trabalho honesto e produtivo conseguiram um mealheiro e adquiriram a fazenda denominada São Mathias, sendo, então, conhecida por fazenda “Dois Irmãos”. Como dito anteriormente, sita a uma légua mais ou menos, de distância da fazenda Pirapetinga.
Inimizaram-se, devido às artimanhas de “Tira-Prosa”, que usufruía proveitos pecuniários de ambos.Um dia, chegou e matou todos os cachorros, quase todos de estimação de Fernando, dizendo que foi a mando de Antônio.
Em conseqüência desse fato que veio a separar os dois irmãos, por uma inimizade criada por Quintino, Antônio Ferraz separou a velha sociedade que tinha com seu irmão. Antônio Ferraz era casado com uma filha de Dona Eleutéria Claudina Fortes, a filha do segundo guarda-mor do Registro de Rio Preto, Francisco Dionísio Fortes de Bustamante.

Inimizaram-se por ter “Tira-Prosa” matado os cachorros de Fernando Ferraz, tendo como conseqüência a transferência de Antônio Ferraz para a fazenda de Pirapetinga.



















Vestígios da fazenda São Mateus. Hoje, Santa Rita. FHOAA 2010.



Já em Santa Rita de Jacutinga “Tira-Prosa” é um homem que só em referir seu nome provoca pânico, pois esperou, na estrada do Passa Vinte, em um morro perto da casa de José Theodoro, seu desafeto José Vilela de Souza Meirelles que não caiu morto sob as punhaladas de seu terrível adversário, por ter galopado o animal.
Matou um homem em São João Marcos, na província do Rio de Janeiro, a man-do de outros, cujo crime ficou impune.
Outro indivíduo que com “ Tira-Prosa”, faz a dupla macabra é Calisto Marques da Silva, natural da vila de Tamanduá ( Itapecerica),desta Província.
Reside na Freguesia de Conservatória, há oito para nove anos. O seu serviço é no trabalho de machado e serras. Doma, também, burros bravios.
Portador de um sangue frio que põe os criminosos na classificação dos desnaturados que pedem o socorro duma intervenção psicopata.
Apenso nº 03 da província- Regimento de Cavalaria Ligeira- Nº01- Nota dos anais do ferrador abaixo declarado, que se evadiu deste Quartel, a 09 de abril de 1859, achando-se preso para sentenciar. Nº 53= Ferrador=Quintino de Lima Sampaio, filho de Manoel Caetano de Lima, natural de Angra dos Reis, nasceu em 1827= altura 62 e 1 /2polegadas, cabelos pretos, olhos pardos, ofício =ferrador, estando solteiro. Quartel em 03 de Maio de 1862. Francisco Joaquim Pinto Pereira = Major Graduado Comandante interino. Conforme o Secretário de Polícia- Leopoldo Henriques Coutinho.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A boca pequena diz que um tal de Mourão ficou de tocaia a beira da estrada a mando do dr. Gabrielzinho a fim de matar Pereira,como também, quando esteve pela última vez em Ouro Preto,havia ali um capanga com intuito de assassiná-lo, não o conseguindo por se desencontrarem.
Pela volta da capital da Província, Pereira encontra frente a frente com dr. Ga-brielzinho, mesmo na ponte do Boqueirão e, este nega cumprimento, coisa que não é de seu costume.

Numa tarde recebe uma intimação para ir à Fazenda de Santa Clara. Não atendeu.
No mesmo dia, à noite, quarenta escravos penetram em sua casa para levá-lo amarrado, o que não conseguiram, pois Pereira se escondera.
No dia seguinte escreveu ao dr. Gabriel uma longa carta pedindo acomodação sobre a estrada,desculpando-se pelo que lhe tinha feito.
Este ao receber a missiva chega até a ridicularizá-lo, dizendo ao portador que já estava terminando sua estrada para oferecê-la ao Governo da Província de Minas, não como a “Estrada Pereira”, que está errada, ficando assim o seu construtor perdido para sempre, pois o Governo não lhe pagaria os serviços prestados.
E, que sua estrada será melhor do que a que passa pelo Boqueirão, depois de acabada.
E, finaliza:
_Nossa família muito tem sofrido com essa luta que se chama Pereira.



Há um incêndio no engenho da fazenda de Santa Clara e os seus proprietários acusam Pereira do fato, abrindo um inquérito na delegacia de polícia da Vila, de que nada se apurou.
Capítulo VI

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Crime da Cava Grande - Assassinato de Manoel da Silva Pereira Júnior.

Do barco que se apresenta com cambiantes de imponência, salta Pereira, deixando a bordo um escravo a fim de guardar a embarcação.
Entra mata adentro a procura de operários escravos que deverão passar para a outra banda do rio.
Existe defronte à fazenda uma ponte, mas o seu proprietário proibiu que Pereira com sua gente nela fizesse trânsito.
O administrador Morais que está em vigília permanente a fim de perseguir o malogrado construtor de estradas, chama os escravos da Fazenda de Santa Clara, os de nome Chico Gomes, Dezidério, Pio Serrador e o livre Domiciano, que é cunhado de José Pereira.
Com presteza retiram a barca para a terra firme, obrigando sob ameaça de morte, ao escravo vigia, a auxiliar nesse serviço.
Posta para fora d’água pegam em um trado, previamente preparado, fazem algumas perfurações no fundo da barca, colocam dentro grande quantidade de pedras a lançam-na no rio.
Como é de se esperar, a barca afunda incontinentemente.
Cá fora, Morais com sua gente, dão gargalhadas estrepitosas.
Procede-se desta forma é porque o comendador Souza Fortes o ordenara, pois estava indignado por ver Pereira entrar em suas terras, a fim de cavar a estrada que alcançasse Conservatória.
Antônio Ignácio Ferraz, o dono da Fazenda de São Francisco (Pirapetinga), esquecido da antiga amizade de Pereira, que se achava na fazenda do comendador,quando notou a indignação de seu visitado, deu a idéia de que se enchessem a barca de café da fazenda, prendessem e amarrassem o escravo que a vigiava, levassem-no preso para a vila do Rio Preto e denunciassem Pereira como ladrão de café, usando para isso sua barca.
O comendador Souza Fortes não deu consentimento para assim procedessem.
Duas lágrimas de pesar caíram pelas faces de Pereira quando testemunhou a cruel vingança feita pelos Fortes, pondo ao fundo das águas plácidas do rio Preto o seu aparatoso barco nem mesmo respeitando os pavilhões pátrios que nela drapejavam.
Resignadamente, subiu com sua gente, margem direita do rio Preto, mesmo em terras da fazenda São Fernando, indo atravessar o rio pela sua ponte defronte à sua antiga propriedade- Pirapetinga- (São Francisco).
Ir contra gente que só desrespeitava as leis do Império para humilhar a seus concidadãos é para Pereira uma tarefa ingrata, mas animado pelo grande círculo de seus amigos e com os beneplácitos dos governos provinciais de Minas Gerais e Rio de Janeiro, não esmorece.
Que fazer! Via que no término de suas obras, seriam compensados pelos cofres públicos os seus esforços sobrehumanos, reabilitando assim, o seu estado precário de finanças.
Tinha algum crédito ainda, mas este estava em cheque, pois o Dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, o mais ilustre da família, indo a Vassouras, dirigiu-se à “Casa de Furquírios X Irmãos”, onde Pereira tinha conta-corrente, pediu que não lhe adiantassem mais dinheiro porque Pereira não pagaria, visto não colher o café que dizia possuir; procedimento este reprovado pelas pessoas presentes.
Francisco de Paula Dias Moreira é empregado na fazenda São Luiz, da Marquesa de Valença, como administrador.
Indo à Bom Jardim, na volta passou pelo Solar da viscondessa de Monte Verde.
Ai encontra o dr. Gabrielzinho que esperando descobrir em Dias Moreira opinião contra a estrada do Boqueirão da Mira, pergunta-lhe:
_Como achaste a estrada do Boqueirão, Moreira?
_Esplêndida! Faz encurtar a viagem, pois gastei do Bom Jardim até aqui apenas seis horas, respondeu Dias Moreira.
Contrariado diz o dr. Gabrielzinho.
_ A mesma coisa não julga o Vigário de Bom Jardim que é pereirista.
_Digo-o com sinceridade, pois não sou pereirista nem fortista, respondeu Moreira, achei a estrada ótima.
_ O amigo ousa me contrariar? Diz dr Gabrielzinho todo indignado, fazendo o administrador da fazenda de São Luiz se retirar às pressas de Santa Clara.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Corre o ano de 1858.
Numa tarde de sol, Pereira traz da Cachoeira do rio Preto,abaixo da barra do Pirapetinga, uma barca.
O seu espírito de patriotismo faz hastear as bandeiras brasileira e portuguesa num mastro improvisado erguido na barca.
Flamejavam ao vento vivificador do vale do rio Preto, parecendo entoar hinos às pátrias irmãs à natureza maravilhosa desdobrante.
Colocou a barca na testada das terras da fazenda de São Fernando, do Comendador Carlos Teodoro de Sousa Fortes para passar os seus serviçais empregados no trabalho da estrada que está sendo feita em terras regadas pelo serpeteante rio São Fernando. À sua desembocadura fica a sede da importante fazenda.